quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

A Saga do Homem Agenor Pinheiro


No lugarejo de Apreribé na fazenda do Sr. Erthal, Agenor Pinheiro Trabalhava como capataz cuidando do gado, da lavoura e outras responsabilidades inerentes à função, Dona Anália sua esposa, era cozinheira e responsável por todos os afazeres da casa.

Agenor trabalhou nessa fazenda durante cinco anos, após esse período procurou Sr. Erthal para acertar suas contas, muito a contragosto o patrão tentou demovê-lo da sua intenção, pois sabia que ia perder um ótimo colaborador. Agenor agradeceu seus elogios, mas estava mesmo determinado na sua intenção de tentar a vida em outro lugar; sendo assim foram para uma sala papéis postos na mesa, o acerto lhe rendeu um bom dinheiro, que foi muito útil para custear seu sonho.

Sr. Erthal perguntou, “ Quando você pretende partir?” , “ Sem ser esta semana, na segunda feira da semana que vem.”, “ Sendo assim vou preparar um almoço no sábado para você, seus três amigos, Dona Anália e seus três filhos, para comemorarmos, curtir os papos furados do Sr. Gentil, ficando a tarde toda para prosear e marcando sua despedida.” O convite foi aceito e a festança entrou noite adentro.

Festa encerrada, os começaram a conversar e o Sr. Erthal perguntou “ Você providenciou alguma coisa para a viagem?” “ Comprei um burro guia do tropeiro, uma cangalha e dois balaios grandes, falta ainda comprar um cavalo.” “ Não precisa o cavalo, fica resolvido: você leva a égua Mimosa como presente, um animal novo para aguentar o batente.”

Final da festa começou a despedida, muitos abraço, muita choradeira das crianças e dos marmanjos, festa encerrada.  Agenor durante a semana comprou os trens para a viagem: 3 enxadas sem cabo, 3 foices, 2 serrotes, uma enxó, 2 lonas grandes para barracas, uma boa quantidade de feijão, arroz, fubá, café e farinha. Num dos balaios levou roupas de cama e vestir.

Segunda-feira madrugada, tudo arrumado, desceram uma ruazinha estreita de terra chegando as margens do Rio Aperibé. Atravessaram  de um lado para o outro o rio que era bem largo, as crianças e Dona Anália à cavalo, os homens a pé encarando água até a cintura; continuaram andando por um longo espaço, com água nos pés, o rio parecia uma praia de água cristalina, o sol já começava a brilhar, as gotinhas de orvalho eram como estrelas no céu.

Seguindo em frente começaram a atravessar o terreiro da fazenda do Sr. Cristóvão, muita galinha cacarejando, leitões e vacas, foram passando, pois era o caminho; pegando uma estrada estreita durante quatro horas nos terrenos da dita fazenda. Já quase meio dia sol a pino encerraram os limites de fazenda, encontraram uma porteira, com mata burro, onde só se podia passar a pé, mesmo assim com cuidado entre o intervalo dos pranchões, o jeito foi passar o burro e água por um espaço muito apertado que descia ao lado do mata burro, pagando a trilha em frente, já nas terras de outra fazenda.

Estavam agora passando na fazenda que tinha como donatário o Sr. Bento, a situação era muito diferente, as fazendas eram mais um aglomerado de gente, muito mais homens que mulheres; a extensão de terra era muito grande, dificultando que algum pretenso donatário, governador ou prefeito impusesse alguma ordem politica.            

 Chega de papo furando, vamos continuar nossa viagem, o grupo passou por uma estrada estreita que tinha duas trilhas e no meio o mato era mais alto, andando mais umas três horas, a fome estava aumentando e as crianças choravam; após mais uma hora de caminhada localizaram um bosque coberto por árvores frondosas, ali pararam para almoçar, as crianças foram as primeiras a encher a barriga, deram água aos animais e ficaram ali mais ou menos umas duas horas. 

Pela posição do Sol, já passava das três horas, levantaram acampamento seguindo por uma trilha estreita, contornando pedras gigantes, começou a chover, o terreno ficou escorregadio, o sol entre as nuvens já escurecia, quando Zeca gritou lá na frente: “ Temos que arrumar um lugar para acampar rápido”, andando mais um pouco o lugar apareceu, umas grandes figueiras formavam o espaço ideal para armar as barracas.

Facão na mão cortando os troncos, limpando o chão, aproveitando alguns galhos armaram as duas barracas; Sebastião encontrou em um lado da mata uma pequena mina d´água, procurou um bambu, rachou no meio e fez uma bica, água para dar banho nas crianças, botar os animais para beber; desarrearam, tiraram as cangalhas e colocaram os animais para pastar. Arranjaram uma boa quantidade de madeira seca, com elas fizeram três fogueiras nas laterais do acampamento, que clareavam e protegiam das cobras e outros animais muito comuns na região; em seguida armaram um tripé com as panelas para cozinhar feijão e arroz, tirando o caldo do feijão para as crianças comerem com arroz e pedaços de carne defumada.

As crianças, muito cansadas, foram logo dormir junto com a mãe, os homens continuaram cozinhando, ficaram conversando e bebericando, perdendo a noção do tempo, o silencio da mata apagou todo mundo, acordaram com o sol já alto e barulho dos pássaros e os monos rocando na copa das árvores. Levantaram, fizeram café, todos alimentados, desmontaram as barracas, arrumaram os animais, já eram umas dez horas, partiram para uma nova caminhada.

Começaram por uma trilha estreita de mata fechada, tudo na base do facão cortando galhos, contornando árvores gigantes, quase não viam o Sol, sacrificando muito os animais, para não perder tempo combinaram de não parar para comer, iam andando e comendo ao mesmo tempo.

O tempo passava e já ia escurecendo, quando João disse: “ Zeca, vá subindo na frente e vê encontra um lugar para acampar”, passado meia hora Zeca gritou: “ Encontrei um lugar!”. Subiram um pouco, uma figueira enorme e duas paineiras muito grandes, as painas que caiam de seus galhos forravam o chão todo de branco; as crianças adoraram, rolando no chão e brincando a vontade. João de facão na mão cortou o mato em volta, abriu espaço para as barracas, ascendeu as fogueiras para clarear o ambiente e proteger, desarrearam os animais. Sebastião encontrou um córrego pequeno a uns duzentos metros abaixo, deu água para os animais, colocando-os para pastar e carregou água para a comida e dar banha nas crianças. Dona Anália e as crianças muito cansadas foram logo dormir, os homens depois de jantar, uns bebericando e outros fumando ficaram botando lenha na fogueira para que ficasse aceso o maior tempo possível. Noite já alta, mata silenciosa, a lua clareando entre os galhos das árvores, com o cansaço todo mundo dormiu.

No dia seguinte acordaram Sol já estava alto, fizeram café, todos alimentados e descansados saíram, desceram seguindo o curso do riacho, a uns quinhentos metros encontraram um poço muito grande com um pé de Marianeira na margem, conforme caiam as frutas os peixes pulavam , comendo todas que caiam na água, voltaram ao acampamento pegaram os anzóis, pescaram uma grande quantidade de peixes, retornaram ao acampamento, assaram todo o peixe, tirando as espinhas para que as crianças pudessem comer; encontraram na beirada úmida do córrego uma folhagem  chamada bordoega, já conhecida pelo Zeca, que uma vez cozida completou a refeição dos três dias que ficaram ali.

Os três conversando em uma avaliação do acampamento anterior até onde estavam já deveriam ter percorrido uns trinta quilômetros, no dia seguinte as quatro da manhã nova caminhada, combinaram que só fariam pequenas paradas para comer, nesse trecho da trilha começaram a subir contornando pedras grandes e trocos de árvores enormes, levaram umas quatro horas subindo até que para alivio chegaram a um planalto.

 A viagem começou a render, foram contornando as montanhas, os caminhos eram quase sempre planos, andando a noite era escura, o cansaço era muito, o jeito era parar logo na frente, espaço vazio, com pouca vegetação com uns pés de Jequitibá muito grandes. Armaram o acampamento neste local, limparam o terreno, juntaram madeira seca para acender as fogueiras, armaram as barracas, desarrearam os animais; Zeca perguntou: “ Vocês não estão ouvindo um barulho diferente?” , era uma cachoeira grande a uns duzentos metros de distancia, pegaram água do lado da cachoeira, armaram os tripés, fogo nas panelas, fizeram a pouca comida que restava, mais para as crianças, os adultos, cansados com fome dormiram.

Acordando no dia seguinte já com Sol alto, começaram a explorar a região, desceram do lado da cachoeira, uns quinhentos metros de distancia, encontraram um poço muito grande que dava até para andar de canoa, o que interessava eram os peixes, jogaram os anzóis, pescando durante toda a parte da manhã, conseguiram uma boa quantidade peixes.

Voltaram para o acampamento, limparam os peixes, botaram para assar, tiraram uma grande quantidade armazenando-a, peneiraram para que não ficasse nenhuma espinha esse destinado esses só para as crianças. O almoço foi farto, todos de barriga cheia, chegaram até a cochilar.

Na parte da tarde Zeca lembrou que tinha soltado os animais para pastar, pegou os cabrestos, trouxe para o acampamento, quando estava amarrando em uma árvore do lado ouviu um barulho, foi averiguar, era uma manda de jacus que faziam daquelas árvores seu dormitório, saíram correndo, pegaram os rifles, resultado mataram seis Jacus. Enquanto depenavam os jacus, ouviam os monos roncando e as onças uivando na mata, os uivos pareciam um pouco longe, para a segurança providenciaram uma quarta fogueira, assaram os jacus, jantar farto o sono bateu, acordaram no dia seguinte com a claridade do Sol.

João foi pegar água para fazer café, voltou correndo pegou o rifle ouviram dois tiros, correram até lá, era uma capivara de uns trinta quilos, trouxeram para o acampamento penduraram em um galho de árvore para escorrer o óleo durante a noite, no dia seguinte assaram toda a carne.

 O Zeca que não conseguia ficar parado descobriu na parte da manhã ainda escuro uma árvore apinhada de jacus comendo frutas, resultado, muito mais jacus abatidos, garantindo almoços e jantares.

Já no sexto dia, em andanças pela região encontraram umas trilhas de pacas, não tinham cachorro para desentocar os bichos, resolveram que um com um berrante desentocaria as pacas, dois na beira do lago esperavam, em uma só noite mataram cinco pacas, o lugar era um verdadeiro paraíso, tinha também um pé de Jacaracatia, uma fruta pequena de cor amarela parecida com mamão, muito doce, que as crianças e adultos comiam toda a manhã.

Estava tudo muito bom, mas a viagem tinha que continuar, do oitavo para o nono dia muito cedo levantaram acampamento, contornaram a cachoeira um quilometro abaixo, onde o rio era mais baixo e muito largo, atravessaram pegando o outro lado, subindo, contornando trocos de árvores, em umas duas horas saíram em um espaço descampado contornando uma cordilheira, parando de vez em quando para comer, umas oito horas andando começou a escurecer.

Andando mais um pouco ouviram cachorros latindo, uma luz fraca e um casarão velho na parte de cima, cinco crianças escurinhas desceram correndo ao encontro do grupo, começaram a brincar com as crianças de Seu Agenor, em seguida chegou uma figura, um negão com dois metros de altura, com uma barba enorme de chapelão na cabeça, um rifle papo amarelo pendurado no ombro, disse:” Meu nome é Jacatirão”, cumprimentou assim: “ Sódo sois cristê”( sois de de paz ), Agenor respondeu: “ Sou de paz”, logo em seguida apareceu uma negona de um metro e oitenta, vendo do Anália e as crianças, disse: “Voces vão ficar aqui, lá em cima tem um barracão, a Dona e as crianças dormem na casa, os homi, dormem no barracão.”

A Dona Zezé tomou-se de amor pelas crianças, o grupo ficou ali por quatro dias. No quinto dia tudo arrumado, estavam saindo, escutaram barulho de cascos de animais, eram quatro homens a cavalo, todos com rifles pendurados nos ombros, perguntaram a dona Zezé: “ Quem são?” , “São jagunços, eles tem negócio com meu marido”, despediram-se e seguiram nova caminhada, andando quase quatro horas só subindo, por um longo trecho de poucos declives; andaram umas oito horas, já estava escurecendo, encontraram um lugar onde tinha uma mina d´água, fazia muito frio, acamparam ali por uma noite.

No dia seguinte levantaram cedo, começaram a caminhar por um terreno horrível, muito acidentado, quando ouviram um bando de animais, eram os jagunços que chegaram logo brincando com as crianças, perguntaram:” Para onde vocês estão indo?” “ Queremos subir a serra.”, “ Aqui por Taquaruna, com os animais pesados e as crianças, vai ser muito difícil, o jeito é descer até aquele Jacarandá lá em baixo e contornar, saindo em Caiana.” Conselho aceito. Seguiram contornando as montanhas, muita água no caminho, após seis horas de caminhada encontraram um baixadão de vegetação muito baixa que facilitava a caminhada, conseguiram andar uns vinte quilômetros até as seis da tarde; encontraram uma lagoa muito grande em um lado havia um espaço seco, pernoitaram ali.

Saíram no pela manhã contornando árvores pequenas, quatro horas andando pegaram uma subida pequena, desceram e atravessaram um rio, entraram por dentro de uma mata que parecia um túnel, um quilometro de distancia saíram em frente, atravessaram o rio, seguindo com o rio a esquerda logo em frente depois de uma lombada, avistaram o verdadeiro paraíso, muitas montanhas que estavam tão longe que pareciam serem azuis.

Caminharam mais um pouco pela beira do rio na parte de cima, uns quinhentos metros encontraram um lugar bom para construir uma cabana, facão e foice na mão, limparam o espaço, capinaram o chão, saíram para a mata cortaram galhos de árvores que seriam os caibros, foram oito árvores para os esteios da cabana. Fincaram os troncos, num espaço de dez por dez, levantaram a cumeeira colocaram os caibros, usaram a lonas para cobrir uma parte, cobrindo o resto com galhos de coqueiros, cortaram um porção de árvores de porte médio encaixaram uma em cima da outra, nas quatro laterais da casa deixando uma na porta na frente e outra nos fundos. Zeca já tinha cortado um bambu e feito uma bica de água do lado da casa.

O tempo foi passando melhoraram a casa, quando surgiu o Sr. Lattorre em um cavalo puxando um burro, o negócio era vender, Agenor comprou seis galinhas, um galo, uma quantidade de ovos, feijão, arroz e fubá. Na semana seguinte ele apareceu trazendo quatro leitões, café em grão para plantar e lhe deu um casal de cachorros de presente; os dois ficaram muito amigos, Sr. Lattorre, descendente de italianos falava muito alto e era muito alegre. Ele de vez em quando aparecia para almoçar, trocavam ideias, numa dessas conversas ele informou que em Taquaruna  existia um posto de venda de mercadorias que os tropeiros traziam da capital .

Na semana seguinte Zeca e João arrearam os animais e seguiram para Taquaruna, compraram brim e tecidos finos para roupas femininas, querosene, sal, uma maquina de costura portátil usada em bom estado de conservação, um gurpião para cerrar madeiras, munição para arma de fogo, uma trempe para fogão de seis bocas, pernoitaram por lá, voltaram no dia seguinte chegando por volta de meio dia. Montaram uma pequena serraria para aparelhar madeira, tábuas e outras peças pesadas.

Em um certo dia quando estavam almoçando, aparecerem os jagunços liderados por um tal de Monteiro, pediram para comprar feijão, arroz fubá e toicinho. Sr. Agenor prontamente atendeu o pedido, eles pagaram com um bom dinheiro, voltando outras vezes para comprar; naquela época o jeito era atender, não era negócio criar atrito com eles, as consequências seriam imprevisíveis.

O tempo ia passando a vida continuava, Agenor foi a sitio do Macharete comprar um gado, comprou quatro juntas para puxar as toras para a cerraria, mais cinco vacas leiteiras, bezerro e um touro reprodutor.

Com a junta de bois para arrastar as toras e a serraria para aparelhar a madeira Agenor resolveu reconstruir a casa, mandou buscar Sr. Ferreira que entendia do negócio, Ferreira mediu o espaço no terreno, calculou o peso por metro quadrado, pé direito alto, quatro quartos grandes, uma sala de jantar, uma sala de visitas, cozinha na parte dos fundos, uma cobertura em toda a extensão da casa, com um fogão dos fornos de barro no fundo do terreno, a casa ficava alto do chão dois metros em toda a sua extensão, o que servia para guardar arreios e mais o que era produzido na propriedade, na entrada da casa havia um alpendre com uma escada de oito degraus; o trabalho na lavoura não parou, cafezal, milho , cana de açúcar, as únicas coisas que vinham de fora era sal e querosene.

 Na parte do gado o retireiro Sr. Erotides era quem cuidava, todos os dias na a tarde as vacas e os bezerros eram trazidos para o curral, em um dia de rotina, quando eram separados os bezerros  perceberam que faltava um,  no dia seguinte começaram a procurar, em um canto do pasto os urubus voando e passando nas arvores denunciaram, acharam os restos do bezerro que a onça comeu e deixou ali; na época do inverno fazia muito frio, os cachorros dormiam nos fornos de barro no fundo do terreno, por diversas vezes as onças comeram cachorro dentro do forno, com o aumento das lavouras e os caçadores elas foram desaparecendo.

O tempo ia passando, a fazenda era um verdadeiro jardim atraindo o interesse de outros moradores da região, entre eles o Sr. Feliciano Vitorino, que apresentou uma proposta de compra um tanto irrecusável. Agenor pensou por uma semana e fechou o negócio, com a metade do dinheiro que recebeu comprou uma propriedade muito grande a cinco quilômetros do outro lado do rio, uns cento e oitenta alqueires, não tinha lavoura somente pasto e uma casa modesta para onde mudou, fez mudanças na casa, construiu uma cozinha grande e mais dois quartos; já existia na propriedade uma tulha, um paiol, curral com cobertura para as vacas leiteiras, como tinha muito pasto, comprou do Macharete quatro junta de bois para o carro de bois, seis vacas e um lote de garrotes. Foi a casa do Zé Bilid comprou três cavalos de cela e um burro de nome Fazendão que passou a ser seu meio de transporte.

Como movimentava uma relativa quantidade de dinheiro e tinha dinheiro  em casa resolveu procurar um banco, mandou arrear o Fazendão e saiu de madrugada para Caparaó de Baixo, deixou o burro em uma cocheira que tinha um negão que cuidava dos animais durante o dia, embarcou no trem para Carangola, foi ao banco passou o dia todo lá, retornando a tarde para Caparaó de Baixo, pegou o burro, chegando em casa já a noite.

Nas idas e vindas ao banco em Carangola fez amizade com o gerente, Sr. Noronha, cliente do banco já há um ano e meio, certo dia apareceram na sua casa uns boiadeiros com mil e quinhentas cabeças de gabo já invadindo os pastos, com um bilhete do Noronha prometendo arredamento do pasto, situação que deixou Agenor com a pulga atrás da orelha, onde o gerente arranjou dinheiro para comprar tanto boi. Passado um mês ele foi a Carangola e encontrou e seguinte situação, banco fechado, tremendo tumulto em volta do banco, um oficial de justiça com uma papelada na mão, na ficha de Agenor contavam mais de cem cheques com sua assinatura falsificada e o saldo na conta era quase zero. Noronha foi preso, foi tudo parar na justiça, com o recurso moroso da lei, o ressarcimento foi muito pouco, do gado que ficou no seu pasto com pouca gente para cuidar, morreram algumas cabeças, o que restou ele vendeu, mesmo assim ainda teve prejuízo.

 Continuou a sua propriedade com um pequeno gado e suas lavouras, seus pés de café que eram a sua paixão. Por insistência de seus amigos tornou-se maçon, indo todo mês a Manhumirim participar das reuniões, conseguindo ser benemérito grau trinta e três.

 

 

Agenor tinha quatro filhos, dois tinham casa própria na sua propriedade Alfredo casado com Leopoldina Valério tocava lavoura e tinha um pequeno gado, Dorca casada Neftali Peixoto tinha suas lavouras e seus derivados, Isaias estudava em BH e Lucinda casada com um Pastor Batista não morava lá.

Durante o retorno da uma viagem ao Rio de Janeiro, numa parada de uma hora em Faria Lemos, andando pelas pequenas ruas, Agenor encontrou uma mulher de cor negra com uma criança no colo, loirinha e de olhos azius, perguntou a ela:” Mulher, onde você arranjou esse filho branco?” ela retrucou “ Voce nunca viu galinha preta botar ovo branco?” , continuando a conversa descontraídos ela disse que era ama de leite da criança e que tinha dois filhos pequenos, estava com dificuldade para cria-los, Agenor pediu para levar as duas crianças, ela aceitou, o dois com suas trouxinhas, seus nomes Gedeon e Dilermando, pagaram o trem o foram para Caparaó. Em uma de suas viagens adotou mais, este de cor branca de nome João Batista.   

Agenor era um homem muito exigente, cobrador, porém muito honesto, impunha seus valores, primeiro trabalho, segundo terra, com o produto do trabalho você faz a terra produzir, você estuda, casa e institui família; os três filhos adotados viveram com ele até casar no papel indo viver suas vidas em outros lugares.

Em sua propriedade o forte da produção era o café, produzia milhos, suínos e até queijos, como as lavouras de café naquela região cresceram muito, preço bom cotação em dólar, a cidade de Manhumirim por estar mais perto das regiões produtoras e o dinheiro circulando o progresso chegou trazendo bancos, colégios, faculdade, hospital, armazéns dos compradores de café, onde Agenor e seus amigos fazendeiros iam quase toda semana vender café, ir ao banco, fazer compras e que ninguém é de ferro ir ao bar tomar suas cachaças, cervejas, whisky´s, prosear e contar piadas.

Agenor comprou e doou um terreno em Jequitibá para a construção da loja maçônica, comprou um terreno em Alto Caparaó para a construção da Igreja Batista, era membro da igreja, mas frequentava muito pouco as reuniões.

Ano de 1942 a guerra se alastrava pela Europa, o Fiher  e seus generais invadiram a Polônia, França e sua linha Maginot, a queda do falastrão Mussolini na Itália, Normandia na Alemanha. Com o ataque dos japoneses a Pearl Harbour os americanos que não gostavam pouco de guerra entraram com o que tinham e não tinham na guerra, mandando tropas para a Europa.

Com a construção de material bélico para a guerra, aviões, tanques, caminhões, porta aviões e outros de menor importância, eram necessárias peças compostas por material isolante elétrico e isolante ao calor; precisando de grande quantidade começaram a procurar em alguns países, inclusive o Brasil, a exploração em alguns estados não deu certo, a quantidade era pouca e de má qualidade; orientados pelo departamento de mineralogia do Estado de Minas, foram parar em Caparaó, alugaram um casarão em Caparaó de Baixo ficaram baseados ali.

Em uma segunda feira, em um jipe e um jipão chegou uma equipe de geólogos americanos procurando o Sr. Agenor, as apresentações, tomaram café, as formalidades, assinatura de papéis para a exploração de mica ( malacaxeta ), sacramentado o acordo, começaram a explorar na parte mais dos morros no Cauilim o resultado foi surpreendente, era muita quantidade Mica encontrada. Passados seis meses Mr. Jhon um geólogo baixinho resolveu morar mais perto do local da exploração, na parte de baixo da casa de Agenor existia um espaço vazio um porão, Mr. Jhon aproveitou o espaço, construindo uma casa com todo o conforto, um quarto grande, uma sala, banheiro com água quente, geladeira e muito whisky de toda a qualidade, Mr. Jhon e Agenor tornaram-se grandes amigos.

A exploração no Caulim estava satisfatória, a cobrança por mais material e de melhor qualidade vinda da América era toda a semana. Em um domingo apareceu para tomar café José Petronilho, conhecido de Agenor, proprietário de uma pequena lavra, conversa vai conversa vem, ficou sabedor da situação, informou que seu amigo Humberto poderia resolver o problema; terminada a visita ficou combinado que ele iria a Jequitibá acertar com o Humberto.

Com o compromisso de vir a Caparaó na segunda feira da semana seguinte, conforme combinado, seis horas da manhã Humberto apareceu, não era geólogo, o que sabia era o português e as quatro operações aprendido com uma professora que dava aulas a noite nas propriedades e nas casas. Tomaram café, trocaram prosas e foram para o local, distante um quilometro da propriedade, situada entre dois morros em uma grande grota, o americano não acreditando muito em Humberto queria subir o morro, Humberto criado na região conhecia bem o terreno, pela sua orientação contrariando o americano começaram a trabalhar na grota, enxada na mão foi-se um dia de trabalho, as picaretas romperam pedaços de uma rocha branca Feldspato com vestígios de Malacaxeta, Humberto deu as coordenadas, emborcaram um túnel. “ Nesta lateral tem toneladas de material para explorar”, missão cumprida recebeu pagamento pelo serviço prestado encerrando sua responsabilidade.

A operação do Feldspato demandava outra tecnologia, os caminhões começaram a chegar trazendo todo o material, caldeira de alta pressão, marteletes, dinamites, carrinhos de mão e muitos outros acessórios; construíram um galpão muito grande com dormitório e refeitório para os operários, passados dois meses a movimentação era muito grande, os caminhões subiam e desciam todos os dias trazendo material e levando a mica para Caparaó de Baixo.

 Nas oficinas de beneficiamento o dinheiro corria solto, muita gente ganhando direta e indiretamente. No caso da lavra de situada na propriedade de Agenor a maior da região, e de melhor qualidade, marca Rubi, Agenor possuía 30% de tudo que era  apurado em dinheiro.

O tempo passando quando em 1945 com a rendição das tropas na Europa e guerra terminou, os americanos voltaram a América, não tendo necessidade da importação da mica os americanos deixaram Caparaó, levando o maquinário pesado e mais caro, deixando em Caparaó os jipões e jipinhos, Mr. Jhon despede de Agenor quase chorando regressando para sua terra em definitivo.

A exploração no Caulim continuou por algum tempo, já a do Feldspato por ser muito cara e exigir tecnologia, o preço da mica muito baixo, não compensava, a lavra na terra de Agenor com túnel de 200 metros de profundidade encheu de água e foi desativada.

O tempo passou a vida continuou Agenor partiu para fazer o que mais gostava plantar café. Começou a se organizara procurando empregados para trabalhar, contratou oito mais dois que moravam um uma tulha ao lado da casa, Josécomel e Sebastião, o trabalho era derrubar capoeira, fazer covas para plantar e puxar enxada no cafezal já existente, um desses empregados era crente, chegava todo dia mais tarde na lavoura, motivo tinha que ficar uma hora lendo a bíblia antes de pegar no batente, um dia da semana Agenor foi até a lavoura, as seis horas da manhã brincalhão encarnando na turma notou que o crente chegou mais tarde, sabedor da situação, mandou chamar o homem em casa dias trabalhados, acertou sua conta, pagou, não permitindo a desonestidade com os outros empregados, ao entregar o dinheiro do pagamento disse:” Agora você vai ler sua bíblia onde quiser.”

Todo o ano Agenor plantava um arrozal em uma vargem ao lado da casa, junto com os outros empregados trabalhava uma figura, seu nome Anibal, baixinho, muito branco, gordinho, só tinha um dentão na parte superior da boca, usava um chapeuzinho cocô preto na cabeça, trabalhava sempre no arrozal por ser trabalho mais leve, no termino da semana em um sábado Anibal pediu um vale perguntado qual era o motivo, disse:” Vou a rua tirar um retrato.”  Na semana seguinte Almiro perguntou a Anibal: “ Tirou o retrato?” ele tirou do bolso mostrando e disse: “ Trem Chique Sô!”, provocando uma grande risada, conclusão o retrato foi parar no arrozal para espantar passarinho.

A movimentação da propriedade aumentava a cada dia, era acerto de conta dos meeiros, pagamento de empregados, o que era comprado para suprimento, conta nos bancos e despesas pessoais; em um dia a noite ficou acertado que no dia seguinte trabalharíamos o dia inteiro no acerto das contas, acordamos cedo, seis horas da manhã, papelada enchia a mesa, somando e multiplicando tudo no papel, o tempo passou rápido, a cozinheira gritando na cozinha: “ O almoço ta na mesa!”, Agenor vai ao quarto e pega um vidro de whisky. “ Vamos tomar uma cachaça americana e vamos almoçar.” , pegamos novamente após o almoço, assim mesmo sobrou serviço para o dia seguinte.

Agenor costumava tomar banho todo o dia a tardinha, entrava no seu quarto ficava peladão, vestia uma capa gaúcha que cobria o corpo do pescoço aos pés, capa que ele usava a cavalo quando o tempo estava muito frio, atravessava todo o terreiro, passava por um espaço cimentado do lado do curral, um reservatório que acumulava água de um ribeirão inteiro produzindo pressão para movimentar um motor elétrico e o moinho de fubá, ele ficava nesse banho embaixo daquela água toda por quase uma hora.

Agenor era muito vaidoso em um final de semana se arrumou todo bonito, botou seus óculos Ray Ban foi a sede do município receber o titulo menção honrosa concedida pelo governo do Estado de Minas em virtude de ser o primeiro a plantar café naquela região, voltando da festa todo feliz foi muito cumprimentado pelos seus amigos; a vida continuou, trabalhamos a semana inteira, no sábado fomos a rua fazer umas compras, na padaria compramos umas quitandas, passamos no botequim e tomamos umas e outras e nos preparamos para voltar, Almiro foi a cocheira pegar os três animais, quando íamos voltando para a casa, Agenor montado  no burro eu em um cavalo e Almiro em outro, íamos passando por uma propriedade muito bonita quando de repente surgiram duas loiras montadas a cavalo, Agenor perdeu a timidez foi encostando o burro do lado das loiras . “ Moças bonitas, vamos tomar conhecimento!”, Almiro caiu na risada “ Tomar conhecimento?! Esse trem vende engarrafado? Que figura!”. Por supuesto madressita mia!

   

         

    

terça-feira, 28 de agosto de 2012


Eu faço parte desse sonho


Eu faço parte desse sonho

Eu tinha um amigo em Paraíba do Sul, morávamos na mesma rua, fomos praticamente criados juntos. Wilson Barros Onefre, tinha uma personalidade muito forte ( pavio curto), certa ocasião ele apareceu na Emboaba, onde eu trabalhava, dizendo “ Preciso falar com você. O assunto é o seguinte, meu pai é muito amigo do Pereira, vendedor da Antartica que faz a praça aqui nesse região. O caso é o seguinte, a Antartica tem um projeto para montar um depósito de exclusividade em uma firma na cidade de Vassouras, já falei com o Pereira, você tem que ir para lá.” Fui para casa pensei com os meus botões, no dia seguinte encontrei com Wilson e dei a resposta “ Pode informar ao Pereira que aceito”, três dias passados já era final do mês, pedi demissão da Emboaba, logo em seguida ele ligou informando “ Domingo, dia cinco, você vai para Barra do Pirai, almoçar com o Pereira”, fui para o almoço passei o dia inteiro lá, conversamos bastante,, recebi todas as coordenadas. No mesmo dia a noite fui para Vassouras, com a cara e a coragem, passei o resto da noite acordado junto com uns pinguços que estavam na praça, assim que clareou o dia, por informação de um dos bebuns encontrei uma pensão bem barata, onde fui morar, Pensão da Dona Laura; em seguida comecei a procurar um galpão para alugar, por informação de alguém encontrei na rua Caetano Furquim, o galpão de propriedade do Sr. Jorge Ferreira, gente muito fina, fiz uma proposta e ele aceitou, não impôs nenhuma garantia, tudo acertado, galpão alugado.

A partir do espaço garantido, comecei a contratar caminhões da própria cidade, trazendo a cerveja do Rio para Vassouras.

A cerveja começou a chegar, mas o guaraná champagne que era o carro chefe na época, lotei o depósito de engradados na sua capacidade, comecei a correr a praça para vender, no primeiro mês, só saiu uma meia dúzia de engradados. No segundo mês já vendi uma quantidade, a partir do terceiro mês, esvaziei o depósito, tudo que chegava vendia. O depósito ficou pequeno para a demanda do mercado, o jeito foi procurar um depósito maior; eu tomava café todo o dia no bar do Dedé, tinha uma figura que também tomava café na mesma hora, junto comigo, seu Mané Fulero, comentei com ele que estava procurando um espaço maior para o depósito, no dia seguinte ele comentou: “ Na Chácara da Hera tem um galpão grande vazio, procura o Joaquim Pescoço, que ele é o dono.” Fui ao encontro do Sr. Joaquim e consegui alugar o depósito, o espaço precisava de alguns reparos, o próprio Sr. Joaquim contratou um pedreiro e ajudante em vinte dias o depósito estava pronto. Logo em seguida informei ao Sr. Gustavo no Rio que o novo depósito estava apto a receber dois mil engradados. Estávamos no mês de outubro, quando numa segunda feira estacionavam na rua  do depósito dez caminhões da empresa Roda Branca, lotados de cerveja e guaraná; de outubro até dezembro, vendi todo o estoque, a quantidade de cerveja que chegasse, vendi.

Passei a ser chamado de “ O moço da Antartica”, o tempo passou e na convivência com as pessoas da cidade, conheci Toninho Capute e sua companheira Conceição, que tornaram-se meus amigos do peito, por intermédio dos dois conheci a menina mais linda da cidade, como sou um homem de sorte, casei com ela. Passado um determinado tempo, já tinha duas filhas pequenas, Toninho Capute apareceu na casa que eu morava acompanhado do Sr. Álvaro Maia, com o seguinte assunto: “ Estou reformando a casa do Álvaro lá em Paulo de Frontin, ele me pediu para arranjar candidatos para trabalharem em uma obra da Petrobrás em Duque de Caxias; Voce esta dentro do perfil que ele esta precisando”, não aceitei a proposta alegando que não tinha capacidade para trabalhar em uma empresa tão importante, o Álvaro entrou na conversa com um papel na mão e pediu que eu escrevesse meu nome e endereço, de posse do formulário já escrito, “ Com uma caligrafia bonita igual a essa, sua chance é muito grande. “Os dois se despediram e foram embora.

Passado três meses recebi um telegrama para me apresentar no escritório da empresa no Rio, localizando na Rua Teófilo Otoni. No dia marcado compareci ao escritório, preenchi uma ficha com todos os requisitos necessários; me pediram para descer, um jipe estava estacionado na porta do edifício, que nos levou até Campos Elíseos, distrito de Duque de Caxias, local da construção do complexo petroquímico da Petrobrás.

Em um barracão grande, muito comprido, algumas pessoas já distribuíam os formulários das provas, que constavam, português, matemática e história geral, prazo para execução, uma hora; fiz a prova em quarenta minutos e fui para outra sala esperar o resultado, após mais uma hora de espera, Seu Josimar anunciou: “Sr. Agur, aprovado; apresente-se aqui no dia primeiro para trabalhar”. 

No dia primeiro de junho apresentei-me para trabalhar, o Sr. Haroldo Barros era o chefe do setor de comunicações, ele me pediu para organizar a entrada e saída de correspondências e plantas das diversas empreteiras que operavam na obra. A sigla do setor era SETRAF, com uma lotação de oito datilógrafos e vinte e seis contínuos, que todos os dias faziam a distribuição das correspondências e documentações dos diversos setores da obra.

 A construção da fabrica tinha como sigla FABOR, chefiada por Dr. Leopoldo Miguez de Melo, homem simples e honrado a toda prova, chegava religiosamente todos os dias às sete da matina, pega com os contínuos as botas de borracha o capacete e saía enfrentando lama, mosquito e muito calor, só voltava as onze horas para despachar no seu escritório, ao meio dia subia para almoçar no restaurante situado em um galpão muito grande no Morro do Mosquito; no sistema de bandejão, todos os operários da obra indistintamente enfrentavam o bandejão que era de ótima qualidade.

No passar do tempo, a primeira fase da obra concluída, o Dr. Leopoldo resolveu comemorar, solicitou do Joel, chefe do restaurante, que na próxima sexta feira, providenciasse e organizasse uma feijoada com todo o requinte, não poderia faltar um detalha, ele solicitou que fosse colocada em cada bandeja uma xícara de cachaça, foi um tremendo sucesso, provocando um clima de satisfação e harmonia em todo o operariado.

Mais um ano se passou as obras das empreiteiras terminadas, começou-se a construção da Fabrica propriamente dita. Baseado na lei 2004, do governo Juscelino, foi dada isenção do IPI para a importações que não tivessem similar no Brasil; Muitas peças fabricadas pelas siderúrgicas mineiras foram usadas na obra. Planta da Blaunox, firma francesa, construção das unidades a seguir, tanque de salmoura, amônia, casa de força com caldeiras que tem capacidade para fornecer energia elétrica a uma cidade de vinte e cinco mil habitantes; as unidades de estireno e butadieno, os pipirreque e tubulações; a construção do prédio do refeitório, projeto do professor Nyemeyer, uma obra muito bonita; construção do prédio da administração, onde funcionavam todos os escritórios;

Com tudo praticamente construído começou a fase da pré operação, quase todos os operários que trabalhavam na obra foram aproveitados para trabalhar na fabrica; trabalhadores braçais sigla TB, mais grande parte dos burocratas, uma atitude muito bonita e honesta da administração. No meu caso, que já tinha experiência na área de vendas, fui procurado pelo professor Jaci Moraes e fiz prova para este departamento; muitos dos profissionais das áreas mais importantes, engenheiros, químicos e físicos foram requisitados do exterior, como por exemplo Alfredo Chaibler e outros; Silvio Pinguele Rosa também passou por lá.

Todos os técnicos altamente gabaritados foram admitidos sem nenhum privilégio politico, como o usual atualmente.

Tudo montado começou a produção do SBR, sigla originada: Stairener, Buna e Ruber. SBR 1500, 1502, 1510, 1700, 1712 e 1710, mais o látex sintéticos.

 Oitenta por cento do mercado era São Paulo, devido as fabricas de pneus localizadas na região, fornecendo material também para as recauchutadoras, em consequencia disso a gerência de vendas chefiada pelo engenheiro Assis Esmeraldo Coutrin era em São Paulo. A outra fatia de mercado era situada na grande Belo Horizonte e regiões adjacentes como Betin e Nova Serrana onde eu e meu amigo Mauro prestavámos assistencia de vendas uma vez por ano, com muitas histórias pra contar. Abastecendo toda a região, passei a trabalhar no setor de crédito e cobrança, SECOB, que fazia faturamento,  área fiscal e pagamento de impostos; na secretaria, setor do dinheiro, o chefe era meu amigo Manga Rosa.

Tudo funcionava muito bem até que em 1964 estourou o golpe militar, prenderão muita gente, para eles todos  que trabalhavam na fabrica eram comunistas, muita perseguição, meu amigo Oto Leoni Greco andou pagando o pato, alguns foram demitidos sem justa causa, principalmente que participava do sindicato; assumiu a gerencia da fábrica o General Mauricio Correia, no sábado seguinte eu tinha que fechar o faturamento já que naquela época tudo era feito à mão, três datilógrafos para bater as duplicatas mais o mapa de pagamento do imposto; sem que esperássemos apareceu o General alegando que estávamos fazendo a indústria do serão, fiquei Pê da vida, fui dizendo: “ Isto aqui não é quartel! O senhor não entende nada, isto é uma fábrica que produz e tem que vender!” ele fez uma cara de arrogado e foi embora.

Na segunda feira seguinte mandou me chamar na gerencia, todo solicito passou a perguntar por muitos detalhes do funcionamento do faturamento e dos setores da administração, durante todo o tempo que esteve na gerencia, que não foi muito, quando tinha problemas, mandava me chamar. Logo em seguida foram saindo da empresa, pois sentiram que não era sua praia, encerrada a fase militar.

Assume a superintendência o engenheiro Dr. Paulo Lima Câmara, na área de produção engenheiro Pascoal, Ciro Zander, Marcão, Nelson Cher Éder, engenheiro Edvaldo Bogli; diretor de administração Dr. Luis Mario, gente muito boa, muito humano, que com sua generosidade sabia administrar, eu era o homem de confiança e chefiava o setor de vendas; quanta saudade dos meus amigos Teixerão e Assis Mineiro, todo segunda feira apareciam no setor para saber a previsão do butadieno e estireno para a semana.

A fabrica estava em uma fase muito boa, tudo que produzia vendia, existia uma harmonia entre o setor de produção e vendas, igual orçamento, mais dinheiro, menos despesas; o vermelho nunca existia, a exportação de estireno para a Pelmex no México era o fiel da balança.

Eu viajava muito para São Paulo e Belo Horizonte, os dois mercados que absorviam quase tudo que produzíamos, a situação da empresa era a melhor possível, eu já estava trabalhando com direito a aposentadoria a mais de 10 anos, recebendo suplementação baseada na lei CLT. Quando tudo parecia que estava muito bem, um colorido das Alagoas sobre a égide dos idiotas resolve privatizar tudo, foi um dos tristes da minha vida, não por mim que já estava aposentado.

Fui à empresa naquele dia para passar algumas orientações ao meu substituto, os ônibus que chegavam trazendo o pessoal para trabalhar ficavam estacionados em uma área grande do lado de fora, neste dia eles esperaram o pessoal entrar e colocaram todos os ônibus no pátio interno da empresa e todos os operários que estavam nos seus postos para um dia de trabalho foram intimados, alguns a força, a entrar nos ônibus recebiam um papelucho de demissão, muita gente chorando, os malas e oportunistas que trabalhavam na empresa, que não merecem ter seus nomes citados aqui, atuaram nesse processo, infelizmente os Silvérios dos Reis ainda militam por aí, prejudicaram muita gente e o sonho de trabalho, honestidade e honradez. Tenho dito.
Obs: Não sou contra a privatização, muito pelo contrário, mas na base da truculência e desonestidade, beneficiando grupos externos.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012



As histórias do filho do Seu Badico nos idos de 1950, a cidadezinha de Paraíba do Sul, era um verdadeiro paraíso. O Rio Paraíba era um riozão, a molecada se esbaldava nas praias, tomando banho quase todo dia. O que dava o maior charme a cidade era a estação ferroviária, os trens da bitola larga e bitola estreita partindo das estações de Barão de Mauá e Central do Brasil no Rio de Janeiro, com os trens noturnos partindo de Barão de Mauá para a Zona da Mata mineira e da Central do Brasil para Belo Horizonte; naquela época os trens eram a principal meio de transporte de passageiros, tendo o S2 e S1 em horários alternados, os trens eram também o principal meio de transporte de cargas como por exemplo minério de ferro.

Eu morava em uma pracinha chamada Lava Pés de uma tinha a Igreja de Santana do outro a Mansão do Dr. Sabino Souto, moldurando a praça tinha uma mangueira, a árvore era tão grande que a molecada brincava de pique nos seus galhos, quando na hora de queimada o garoto tinha que pular do galho que estivesse, consequência, de vez em quando aparecia um com o pé engessado.

Eu tinha um compromisso todo o dia, ali pelas seis horas da tarde, tomava meu banho, calçava meu tamanquinho de madeira todo gasto, dava pra sentir as pedrinhas da calçada e ia na padaria do Sr. Amador Rios comprar pão, as moças que me atendiam me agarravam e me enchiam de beijos, eu voltava para casa com saquinho de pão todo feliz, me achando o tal.

Estudava no grupo escolar Andrade Figueira, entra burro sai na cocheira, um colégio importante, tinha uma quantidade 600 alunos, se não me engano. A diretora Sr.ª Glória Berthone, gente muito fina, de boas lembranças; a zeladora do colégio Dona Dorvalina, que servia na merenda como de leite para os alunos, quando chegava minha vez, me deixava tomar quantos copos quisesse, pois eu, poucas vezes aparecia, ficava na bagunça com meus colegas.

Estudei, fiz todo o primário e o admissão, recebendo os diplomas. Tínhamos um time de pelada, lembro muito dos meus amigos de futebol, José e Chico Farias, o Zé Mão de Onça era o goleiro, outros mais como Helinho, Renato e José Figueiredo. O José Farias, hoje é auditor fiscal numa dessas empresas de auditoria.  

Voltando a falar da cidade, na Rua das Flores existia o ginásio dirigido pelo professor Gonçalves, onde muita gente boa se formou; outra rua importante era a Rua das Palhas, uma rua muito grande, onde existiam muitas mansões, inclusive dos meus amigos Penas Ribas, era uma rua muito bonita margeada de um lado pela ferrovia bitola estreita, de outro uma carreira grande de árvores e eucaliptos. O escritor Giusepe Guiaroni, uma figura importante, não me recordo se morava nessa rua, autor de um poema muito bonito de nome “O Beijo “, hoje acho que ele é funcionário da Rede Globo.

Ao falar das famílias importantes, não poderia deixar de citar os Visconti, Dona Nair, minha professora; dos D’Angelos, do Nelon D’Angela, grande zagueiro do Riachuelo e da Katia, da área de cultura, artes inclusive cinema. Ao falar de cultura, tenho que falar de outra que é muito importante, a da terra; a Fazenda Itiaca do saudoso amigo Alberto Paes.

Vamos falar agora do famoso Jardim Velho, ocupava um quarteirão inteiro, com suas árvores centenárias, como Jamelão, Oiti e outras, possuía diversas estátuas de mármore e um coreto que tão grande, que sua parte de baixo era um depósito de material da prefeitura, em uma de suas laterais o limite era somente a rua, em seguida a praia que era paraíso da criançada e dos marmanjos que tomavam banho em suas farras aos finais de semana. Dentro do jardim existia um caramanchão, com um banco todo emoldurado com motivos da época, dos seus quatro lados só existia visão na parte da frente, tinha uma menina moça que nas tardes de sexta e sábado, tomava seu banho e vinha somente com um vestido sem sutiã e calcinha, eu e ela namorávamos ali à vontade, o “ bicho pegava”, até que uma figura indiscreta descobriu e acabou com a nossa farra; notadamente o velho jardim era o paraíso dos namorados.

 A cidade tem uma ponte muito bonita, é larga, com mão e contra mão, tendo espaço nas laterais para pedestres, ligando a Fonte Salutaris pelo lado esquerdo e aos bairros Santo Antonio da Encruzilhada, Werneck e outros, pelo lado direito; rio acima, distante mais ou menos 1 km, tem a Ponte Preta, muito bonita e extensa, pertenceu à extinta ferrovia bitola estreita.

A cidade vivia muito em função do rio, existiam muitos peixes de várias espécies, tendo assim muitos pescadores, que possuíam vários barcos, sendo quase uma colônia. Por falar em pescadores, as histórias eram muitas, a colônia dos mentirosos. Existiam na cidade dois bares o Simpatia e o 7 de Setembro; no Simpatia do meu amigo Paraguai, todas as segundas era fixado num espelho na parede do bar, um documento datilografado com a seleção dos mentirosos, inclusive com técnico e massagista. Havia também uma figura cognominada amigo da onça, baixinho com seu chapeuzinho preto, de terno e gravata, que atiçado pela galera despejava seu tremendo repertório de mentiras; outra figura que a turma gostava, na base da gozação, de incentivar, Sr. Ariolário, guarda chaves da rede ferroviária, cargo que exercia como modesto funcionário da rede; sua pretensão era se candidatar a vereador no município, com quase nenhuma possibilidade, a galera dos atiçadores o convidou a criar um partido, o partido que como ele chamava  “ Dos que não tem Boi”, com a sigla PQB, a partir dessa situação foi oficializado hipoteticamente candidato,  atiçado pela galera, o homem partiu para a campanha, em um dia de sábado a tardinha na praça da rodoviária, ele subiu no coreto e começou a discursar: “ Paraibanos e Paraibensas! Paraíba do Sul é uma vaca leiteira que há mais de cinquenta da leite e ninguém sabe pra onde vai! Vou mandar capinar toda a beira do rio para que as mulheres que não fazem nada possam pescar! O candidato da oposição, Sr. Cleofás, vive dizendo por aí, que enquanto os ricos dormem em lençóis limpo e brancas nuvens, o pobre dorme em cama de pau duro.” No pretenso comício a galera em bom numero em volta do coreto, se deliciava vibrando com os gritos: “Ariolário! Ariolário!” , tudo não passou de um tremendo blefe, que a galera aplicou, Seu Ariolário voltou acabrunhado para a função de guarda chave.

Falando da cidade, não posso esquecer o Sr. Manoel Onófrio Rodrigues, homem honrado, acima de qualquer suspeita, fundador do Laticínio Emboaba, onde trabalhei por determinado tempo. Eu tinha quatro amigos de fé, que compartilhávamos de quase todos os eventos da cidade; Agnaldo monitorava casamentos, festas regionais, exposições e outros; existia um taxista, o famoso Calhorda, que nos atendia sempre que saíamos. Certa vez, fomos a uma festa no distrito de Santa Rita, na igreja de mesmo nome, a caminho para a festa o Beto disse: “ O ultimo a arranjar uma namorada, paga o taxi de volta!” Quando o taxi começou a parar, saltei correndo, logo em seguida dei de cara com um grupinho de quatro meninas, uma das quatro era uma escurinha bonitinha, já fui logo jogando o braço pro cima do seu ombro e dizendo: “ Princesa! Voce é a garota mais linda da festa!” , no susto ela respondeu: “ Embruião! Embruião!”, as outras que não eram da cor, na gozação: “ Geiza, você esta com essa bola toda! Com namorado novo e não conta pra gente!?” , moral da história, quem pagou o taxi de volta foi o próprio Beto.

Agnaldo era metido a entender de mulher, dizia que a mulher ama e odeia a palavra simplesmente como segue, “ Ama enquanto dura e odeia enquanto duro!”. Era uma sexta feira por volta do meio dia, quando recebi uma ligação do Agnaldo. “ Esta marcado para amanhã, sábado, já certo com a turma o baile em Santo Antônio da Encruzilhada, o Calhorda já esta avisado.” Resultado, sábado as dez na noite, chegamos a praça em frente ao clube, muita gente aglomerada, enquanto Agnaldo parlamentava com seu papo mais escorregadio que limo verde em pedra encantada, o homem liberou nossa entrada; o salão cheio, musica animada, muita mulher bonita, todos nós arruamos pares para dançar; lá pelas tantas uma figura sobe no palco, mandou a musica parar e determinava:” Vou apagar as luzes! As pessoas que não foram convidadas, por favor retirem-se!” O Agnaldo esbaforido apareceu: “ Vamos sair! Vamos sair!”, resultado: final de noite: maior mico e o Agnaldo quase apanhou.

Estou no escritório trabalhando, todo o telefone, quem é figura? “ Escuta, já acertei com o Beto, Zeca e Elmo, o Calhorda já esta avisado, saída dez horas lá na praça.” Perguntei: “ Mas do que esta falando?” “ Casamento da filha do Sr. Ferreira, voce topa?!” , “ Voce acertou tudo, agora o jeito é encarar! Onde é o casório?” “ No sítio do Sr. Ferreira, perto de Matosinho”, no dia do casório pegamos o taxi na praça, no horário combinado e seguimos pelas ruas até que acabou a iluminação, pegamos uma estrada de terra, cheia de buracos, rodamos, rodamos, noite escura, a lua compensava dando um pouco de claridade, Beto reclamou:” Estamos perdidos!”, de repente ouvimos um som de sanfona, parecia vindo de longe, paramos o carro, estávamos em uma parte alta da estrada, olhamos para baixo e vimos umas luzinhas acesas, retornamos ao carro, seguindo a descida do morro, chegamos a um local, cheio de árvores muito grandes que formavam um bosque muito bonito, lotado de carros, enfim chegamos ao casamento no sítio do Sr. Ferreira.   

A festa acontecia na sede no sítio, uma casa azul e branca, a parte do eitão foi coberta com lona de caminhão formando um grande espaço coberto, logo que chegamos uma pessoa nos chamou a passarmos por um portão de entrada, um senhor com garrafão servia uma dose de cachaça a cada pessoa que entrava, cada um pegava seu copo, festa dominada, conjunto do Sr. Zuza com sua sanfona incentivava todo mundo à dançar.

Estamos os quatro em um canto observando o movimento dos pares dançantes, eis que de repente aparece a noiva de véu e grinalda dançando com uma mulher, enquanto as duas davam voltas pelo salão, o Beto e o Elmo, começaram a atiçar “ Voce é macho mesmo!? Vai lá tira a noiva pra dançar!”, continuaram repetindo “ Vai lá !!!”, tomei coragem fui ao meio do salão, quando as duas chegaram próximas a mim, parti para perto e sai com essa: “ Noiva, quer me dar o prazer desta contradança!?” , saímos rodopiando pelo salão, de repente num tremendo  burburinho apareceram o noive e seus amigos, tremenda correria, duas amigas correram e a tiraram do salão, os amigos do noivo partiram para cima de mim, alguém falou: “ Dá o fora! Você vai apanhar !”, logo em seguido um senhor pega no meu braço, me leva num canto e diz: “ Dançar com noiva não!”, e retrucou: “ Eu conheço você e seus amigos, sou o pai da noiva, sei que vocês são gente boa” e em um tom alegre disse, “ Vão ali para a copa, temos comes e bebes à vontade, divirtam-se!” mas alertou: “ Você dançar com a noiva, nem pensar!!”

quarta-feira, 4 de abril de 2012

A Enxada


Nos idos do final século XVIII a Europa estava falida o capitalismo era global, era total, na Itália surgiu o anarquismo, grupos de operários se organizando em sindicatos, os patrões revidaram, grupos clandestinos eram aliciados para eliminar todos os líderes anarquistas começando a matança e assassinando quase todos. Na Alemanha, a situação não era muito diferente, assolada pela pobreza a população só tinha para comer batata e repolho. Os espanhóis que anteriormente saquearam ouro e outros bens das Américas Central e do Sul estavam com o restante desses saques esgotados. Na Inglaterra, a situação não era muito diferente, mesmo bancando a monarquia gastadora e improdutiva, importavam quase tudo que consumiam, nesta situação começaram a imigrar para os Estados Unidos e outros países inclusive o Brasil. De Portugal não preciso falar, como todo mundo já sabe, eles já estavam aqui.

O Brasil sob o domínio dos portugueses, já passada a fase das capitanias hereditárias, começou a se organizar politicamente sob a regência dos Orleans e Bragança, com a força do trabalho escravo trazido da África. Por um grande espaço de tempo as caravelas aportaram nos portos do Rio de Janeiro e Santos em São Paulo, transformando os estados do Rio, São Paulo e Minas Gerais quase que em uma fazenda só.  

Com a abolição da escravatura em 1888, a falta de mão de obra barata e a crise na Europa, começaram a chegar ao porto de Santos os vapores com milhares de famílias italianas, que em seguida subiam de trem para São Paulo, para trabalhar nas fazendas de café produzindo quantidades excessivas sem nenhum controle de mercado, enriquecendo meia dúzia e empobrecendo milhares em consequência da falência. A partir dessa fase começaram a descobrir o estado de Minas Gerais, os ingleses e alemães começaram a explorar o ouro, que era muito, em seguida o minério de ferro e o manganês. Daí pra frente desenvolveram as minas trazendo o progresso para a região, surgindo grandes extensões de estradas de ferro para escoar o minério, mais precisamente para a Alemanha, começando assim a produzir os dois produtos de mais utilidades na época, a famosa enxada e o arado. As Minas Gerais por afinidade com os alemães começaram a importar os dois produtos muito mais a enxada, pois para a situação montanhosa do terreno onde os cafezais eram plantados, somente a enxada era a solução. Região muito grande e de muitas fazendas, por consequência com muitos  empregados que tinham na enxada o seu ganha pão, alguns deles com tanto apreço pelo seu instrumento de trabalho, tinham mais ciúmes da enxada que da própria mulher, pois sem a enxada eles não teriam dinheiro para manter a mulher.

Minas Gerais era o estado mais rico da federação, pela variedade do clima, um pé de café dura até 30 anos. Com o ferro e outros da mesma gama, na área das gemas como diamantes e outras, sendo a cidade de Theofilo Hotone famosa no comércio das mesmas.

Voltando a falar da situação do comércio no principio do século XIX, mais precisamente em 1929, o balado ano do crash das bolsas americanas e falência do capitalismo afetando muitos países inclusive o Brasil. A era petróleo estava no inicio, ainda não tinha a importância na área do comercio e da tecnologia, continuando assim a importância da enxada em quase tudo.

Diz o velho ditado que a fé remove montanhas, pois a enxada removeu muitas montanhas no Rio de Janeiro, São Paulo, Minas e outros estados. No Norte e Nordeste também ela andou por lá, mas como a terra é seca poeirenta não deu muito certo, mesmo assim com pouco uso ela anda por lá, mas como Deus é brasileiro deu ao Norte e Nordeste  lindas praias e  fartura de peixe.

Voltando para os tempos atuais, considerando que a enxada não esta na moda, entretanto representa um exemplo de trabalho, honestidade e dignidade, no trabalho dos mais pobres e no enriquecimento dos mais ricos.

Falando dos mais ricos, um candidato à presidência da Republica, que nunca trabalhou na vida, da oligarquia do batibute, só conheceu a enxada por fotografia. Outro candidato à presidência da Republica, que nunca trabalhou na vida, egresso das lideranças sindicais, se tocar numa enxada ficará cheio de urticárias.

Representando o instrumento em foco, trabalho honestidade e dignidade, sugiro que se fabrique um broche ou um bótom, e que todos os senadores usem na lapela do paletó, os da câmara alta e dos da câmara baixa, mais cama do que câmara que também obrigados a usar.

Um cidadão brasileiro que me faz sentir orgulho de ser brasileiro, professor Niemayer, tem certeza que se sentirá honrado em receber um broche da referida enxada, notadamente por toda sua incansável vida de trabalho e honradez.

Tenho Dito...           

segunda-feira, 5 de março de 2012

Alto Caparaó


Nos idos de mil novecentos e não sei quanto, eu morava na fazenda do meu avô Agenor Pinheiro, trabalhava de segunda a sexta feira, era pau para toda obra, trabalhando na lavoura e também na contabilidade escriturando o que entrava e saia de dinheiro e conta bancária. Entretanto eu tinha as minhas folgas que também não sou de ferro.

Aos sábados ia para Jequitibá para casa da tia Felismina, mas o motivo maior era paquerar as alunas do internato do colégio presbiteriano que faziam a alegria da praça nas tardes de sábado e domingo. 

Acontece que em um final de semana, segunda feira bonita, bonita, dormi mais que a cama e perdi o bus que saia as sete horas da matina e outra condução somente no mesmo horário no dia seguinte. Moral da história, encarar a pé quase 20 quilômetros de estrada de chão, o que fiz logo em seguida. Na saída da pequena cidade tinha uma venda localizada em um casarão da época com uma escada de pedra, ficando bem mais alto que a rua, entrando na venda para comprar dois pães e um pouco mortadela para fazer um sanduiche. Enquanto o atendente pegava aquela bexiga bonita de mortadela cortando em cima do balcão em um papel pardo e me servia uma fatia, lá do fundo do balcão veio um cheiro forte de cachaça que era servido a uma figura bem característica da região, com seu chapeuzinho preto levantou o copo e disse:

- Vai dá um tapa néla?

Não resistindo segui para o fundo do balcão, a pessoa que atendia veio logo com um copo quase cheio do precioso liquido, pedi para reduzir para dois dedos, peguei o copo e beberiquei logo em seguida. Acontece que tinha que pegar a estrada, o que fiz logo em seguida, peguei a sacola com o pão e a mortadela, desci a escada da venda pegando o caminho em direção a Caparaó.

Quando comecei definitivamente a caminhada notei que tinha companhia, o caipira do chapéu preto, fumando seu cigarrinho de palha começou  logo a conversar envolto na fumaça do cigarro, olhando bem para mim soltou essa:

-A fonosomia eu num esqueço nunca.

Fiquei pensando cá com os meus botões, como se escreve esse negócio, com PH de farmácia ou com F?

Ele muito conversante continuou o papo:

- Enquanto a mula tivé mio na caparonga, nóis chega lá. To levano dois emborná com compra que fiz na rua, uma tem quitanda pros cambarucengos, no otro tem 3 metro de vuar, pra a desdita, enquanto o burziga guenta nóis ta andandu. Ta cheganu nus Tavares, quando vejo as bela fico de zói trocado, vamu subino, ali mora seu Mió.

E seguiu meu novo amigo falante conversando.

- Na casa ondo moro tem uns pé de fruta, os passarin tão comendo tudo. Tenho um vizinho, Seu Perera, que home feio pra daná, falei: Seu Perera vamo la na rua, no retratista, tira uns retrato, comemo umas quitanda e tomamo um gole. Fumo tira os retrato, falei com retratista, quero dois do meu amigo bem grande, um dei pra ele, outro fico comigo, botei nos pé de fruta pra espantar os passarim.

Perguntei:

- Adiantou alguma coisa?

- Nada os passarim costumaru cum ele!

E seguia o matuto na prosa.

- Fui trabaiá levantei cinco hora, inda tava escuro, peguei no eito, garrei no rabo da uiara inté o dia escurece, pra ganha 3 conto no dia. Vortei pra casa já de noitinha, fui na bica tomei um banho, tava armandu chuva, relampejava muito, quando comecei escutar um bicho rocando no mato perto de casa, eu tenho uma flobé e uma papo amarelo, peguei a papo amarelo, subi lá, o bicho tava no meio das foia, fazenu muito barui, centei fogo no bicho, ficou pindurado. Belengô... belengô... e num caiu!

- E você? Foi pegar o bicho?

- Eu não! Fiquei com medo.

- Você tem medo!?

- Quem num tem!? Quem tem, tem medo, uai!

- Ocê conhece Dona Buluta? Ela mora ali. Bem, aqui nós vai aparta. Bem ali começa o caminho da minha casa, os cambarucengo vieru me encontra.

Chegando os meninos, ele disse:

- Minino, sóda o home!

Nisso os garotos estenderam a mão pra me cumprimentar. Despedindo ele me convida:

- Vai lá no Pito Aceso, pra comê um péla égua!

Obs: Professor Pasquale gostaria de seu parecer para a matéria em foco.  

Atualmente essa região é muito rica, grande produtora de café e de grande potencial turístico. Jequitibá, Caparaó, Alto Caparaó, Manhumirim, Manhuassu e outras localidades. Região de colonização europeia realizada por famílias como: Agenor Pinheiro, Valérios, Satles, César, Werner, Breder, Heringes, Moita e Tavares. Meu amigo Nelson César,  não tenho certeza mas acho que o cantor Silvio César também é da Região.



Agur

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012


Será que o mundo mudou? Se mudou onde mudou. Os piratas e os corsários, mais corsários que piratas. Corsários estes patrocinados ou financiados por ingleses, portugueses, espanhóis e outros. Para saquear, roubar, matando inocentes por grandes espaços de tempo na América do Sul e Central, levando para a Europa a moeda da época, ouro diamante e outros bens de capitais, que navegava nas caravelas por mares e oceanos neste mundo afora.

Hoje as moedas são outras, papel somente que continuam navegando pelos computadores, ou mais específico na internet, no sentido inverso, não mais daqui pra lá, mas de lá pra cá, destino paraísos fiscais.

Com a falência do comunismo, a nova ordem econômica denominada pelo jargão globalização, regida pela democracia e capitalismo totalitário, tornou-se a sinfonia onde a orquestra é regida nas ondas dos paraísos fiscais, onde o maestro e sua batuta é o capital.

Agur

O rio esta para o mar,

Assim como o mar esta para o Rio,

Assim como a vida esta para a vida.

Agur

Entre a paternidade e a maternidade, que o menos e o mais é igual a mais,

Entre o calor e o frio, que o menos e o mais é igual a mais,

Entre a chuva e o sol, que o menos é igual a mais.

Na terra das palmeiras, nasceu uma flor

Oriunda de um Pinheiro e mais uma flor,

Que é igual a outra flor por nome Rosana.

Agur

Eu sou o homem de quatro amores,

são só quatro, mas em cada quatro,

são muitos quatros

em cada um, mil amores.

Em cada quatro um quadrado que corresponde a mil amores.



Agur




No tempo e no espaço o amor acontece,

No espaço da praça a verdade é o amor,

No quadrilátero das palmeiras, o amor acontece,

No coreto e no chafariz, na igreja da Matriz, o amor acontece,

No vento o perfume das flores dos seus jardins, o amor acontece,

No centenário, que o espaço é o presente, o amor acontece,

No Santa Amália, que santo mesmo é o amor, o amor acontece

No Grego, que não é o grego de Eros, o amor acontece,

No Madruga, que quem cedo madruga Deus ajuda, o amor acontece,

Na Chácara da Hera, nos tempos românticos de Dona Eufrásia

No amor pelo Conde De e no burrinho cuidado à biscoito, o amor acontece

Nos que chegam, nos que vão, que lugar, que paraíso é este

É simplesmente uma cidade pelo doce nome Vassouras.

Agur

Os que vão, os que estão indo,

Os que estão indo pelo direito de ir,

Os que estão indo pelo dever de ir,

Os que estão indo pelo direito de existir,

Os que estão indo pelo direito a vida,

Mais que isto, ela representa a própria vida,

Vida no simbolismo no simbolado,

Nas linhas dos sulcos das vertentes

Das águas que jorram nas suas linhas,

Aqueles que nas retinas, na linha do horizonte prateado de azul e branco,

Aqueles que vão perseguindo a linha prateada que nunca chega.

Os que estão indo pelas linhas sinuosas,

No brilhar das luzes mais nunca chegam,

Ficando no chão frio,

Tendo como uma marca somente uma cruz cheia de flores.

Aqueles que no quadrado de uma janela, um quadrado de uma janela que nenhum pintor neste mundo de Deus é capaz de esculpir.

Uma janela que o quadrado nem sempre é o mesmo,

Mas é o mesmo no quadrado da janela.

Ser bela, ser ela, quem sou eu?

Agur

Aconteceu em Sumidouro, na Pousada Beira Rio


A luz que brilha no horizonte,

ou muito além do horizonte,

a luz que me guia,

ou a luz que eu presigo,

ou a luz que me leva nas ondas,

dos meus sonhos,

vividos e os que ainda vou viver.

Agur