No lugarejo de Apreribé na fazenda
do Sr. Erthal, Agenor Pinheiro Trabalhava como capataz cuidando do gado, da
lavoura e outras responsabilidades inerentes à função, Dona Anália sua esposa,
era cozinheira e responsável por todos os afazeres da casa.
Agenor trabalhou nessa fazenda
durante cinco anos, após esse período procurou Sr. Erthal para acertar suas
contas, muito a contragosto o patrão tentou demovê-lo da sua intenção, pois
sabia que ia perder um ótimo colaborador. Agenor agradeceu seus elogios, mas
estava mesmo determinado na sua intenção de tentar a vida em outro lugar; sendo
assim foram para uma sala papéis postos na mesa, o acerto lhe rendeu um bom
dinheiro, que foi muito útil para custear seu sonho.
Sr. Erthal perguntou, “ Quando
você pretende partir?” , “ Sem ser esta semana, na segunda feira da semana que
vem.”, “ Sendo assim vou preparar um almoço no sábado para você, seus três
amigos, Dona Anália e seus três filhos, para comemorarmos, curtir os papos
furados do Sr. Gentil, ficando a tarde toda para prosear e marcando sua
despedida.” O convite foi aceito e a festança entrou noite adentro.
Festa encerrada, os começaram a
conversar e o Sr. Erthal perguntou “ Você providenciou alguma coisa para a
viagem?” “ Comprei um burro guia do tropeiro, uma cangalha e dois balaios
grandes, falta ainda comprar um cavalo.” “ Não precisa o cavalo, fica
resolvido: você leva a égua Mimosa como presente, um animal novo para aguentar
o batente.”
Final da festa começou a
despedida, muitos abraço, muita choradeira das crianças e dos marmanjos, festa
encerrada. Agenor durante a semana
comprou os trens para a viagem: 3 enxadas sem cabo, 3 foices, 2 serrotes, uma
enxó, 2 lonas grandes para barracas, uma boa quantidade de feijão, arroz, fubá,
café e farinha. Num dos balaios levou roupas de cama e vestir.
Segunda-feira madrugada, tudo
arrumado, desceram uma ruazinha estreita de terra chegando as margens do Rio
Aperibé. Atravessaram de um lado para o
outro o rio que era bem largo, as crianças e Dona Anália à cavalo, os homens a
pé encarando água até a cintura; continuaram andando por um longo espaço, com
água nos pés, o rio parecia uma praia de água cristalina, o sol já começava a
brilhar, as gotinhas de orvalho eram como estrelas no céu.
Seguindo em frente começaram a atravessar
o terreiro da fazenda do Sr. Cristóvão, muita galinha cacarejando, leitões e
vacas, foram passando, pois era o caminho; pegando uma estrada estreita durante
quatro horas nos terrenos da dita fazenda. Já quase meio dia sol a pino
encerraram os limites de fazenda, encontraram uma porteira, com mata burro,
onde só se podia passar a pé, mesmo assim com cuidado entre o intervalo dos
pranchões, o jeito foi passar o burro e água por um espaço muito apertado que
descia ao lado do mata burro, pagando a trilha em frente, já nas terras de
outra fazenda.
Estavam agora passando na fazenda
que tinha como donatário o Sr. Bento, a situação era muito diferente, as
fazendas eram mais um aglomerado de gente, muito mais homens que mulheres; a
extensão de terra era muito grande, dificultando que algum pretenso donatário,
governador ou prefeito impusesse alguma ordem politica.
Chega de papo furando, vamos continuar nossa
viagem, o grupo passou por uma estrada estreita que tinha duas trilhas e no
meio o mato era mais alto, andando mais umas três horas, a fome estava
aumentando e as crianças choravam; após mais uma hora de caminhada localizaram
um bosque coberto por árvores frondosas, ali pararam para almoçar, as crianças
foram as primeiras a encher a barriga, deram água aos animais e ficaram ali
mais ou menos umas duas horas.
Pela posição do Sol, já passava
das três horas, levantaram acampamento seguindo por uma trilha estreita,
contornando pedras gigantes, começou a chover, o terreno ficou escorregadio, o
sol entre as nuvens já escurecia, quando Zeca gritou lá na frente: “ Temos que
arrumar um lugar para acampar rápido”, andando mais um pouco o lugar apareceu,
umas grandes figueiras formavam o espaço ideal para armar as barracas.
Facão na mão cortando os troncos,
limpando o chão, aproveitando alguns galhos armaram as duas barracas; Sebastião
encontrou em um lado da mata uma pequena mina d´água, procurou um bambu, rachou
no meio e fez uma bica, água para dar banho nas crianças, botar os animais para
beber; desarrearam, tiraram as cangalhas e colocaram os animais para pastar.
Arranjaram uma boa quantidade de madeira seca, com elas fizeram três fogueiras
nas laterais do acampamento, que clareavam e protegiam das cobras e outros
animais muito comuns na região; em seguida armaram um tripé com as panelas para
cozinhar feijão e arroz, tirando o caldo do feijão para as crianças comerem com
arroz e pedaços de carne defumada.
As crianças, muito cansadas,
foram logo dormir junto com a mãe, os homens continuaram cozinhando, ficaram
conversando e bebericando, perdendo a noção do tempo, o silencio da mata apagou
todo mundo, acordaram com o sol já alto e barulho dos pássaros e os monos
rocando na copa das árvores. Levantaram, fizeram café, todos alimentados,
desmontaram as barracas, arrumaram os animais, já eram umas dez horas, partiram
para uma nova caminhada.
Começaram por uma trilha estreita
de mata fechada, tudo na base do facão cortando galhos, contornando árvores
gigantes, quase não viam o Sol, sacrificando muito os animais, para não perder
tempo combinaram de não parar para comer, iam andando e comendo ao mesmo tempo.
O tempo passava e já ia
escurecendo, quando João disse: “ Zeca, vá subindo na frente e vê encontra um
lugar para acampar”, passado meia hora Zeca gritou: “ Encontrei um lugar!”.
Subiram um pouco, uma figueira enorme e duas paineiras muito grandes, as painas
que caiam de seus galhos forravam o chão todo de branco; as crianças adoraram,
rolando no chão e brincando a vontade. João de facão na mão cortou o mato em
volta, abriu espaço para as barracas, ascendeu as fogueiras para clarear o
ambiente e proteger, desarrearam os animais. Sebastião encontrou um córrego
pequeno a uns duzentos metros abaixo, deu água para os animais, colocando-os
para pastar e carregou água para a comida e dar banha nas crianças. Dona Anália
e as crianças muito cansadas foram logo dormir, os homens depois de jantar, uns
bebericando e outros fumando ficaram botando lenha na fogueira para que ficasse
aceso o maior tempo possível. Noite já alta, mata silenciosa, a lua clareando
entre os galhos das árvores, com o cansaço todo mundo dormiu.
No dia seguinte acordaram Sol já
estava alto, fizeram café, todos alimentados e descansados saíram, desceram
seguindo o curso do riacho, a uns quinhentos metros encontraram um poço muito
grande com um pé de Marianeira na margem, conforme caiam as frutas os peixes
pulavam , comendo todas que caiam na água, voltaram ao acampamento pegaram os
anzóis, pescaram uma grande quantidade de peixes, retornaram ao acampamento,
assaram todo o peixe, tirando as espinhas para que as crianças pudessem comer;
encontraram na beirada úmida do córrego uma folhagem chamada bordoega, já conhecida pelo Zeca, que
uma vez cozida completou a refeição dos três dias que ficaram ali.
Os três conversando em uma
avaliação do acampamento anterior até onde estavam já deveriam ter percorrido
uns trinta quilômetros, no dia seguinte as quatro da manhã nova caminhada,
combinaram que só fariam pequenas paradas para comer, nesse trecho da trilha começaram
a subir contornando pedras grandes e trocos de árvores enormes, levaram umas
quatro horas subindo até que para alivio chegaram a um planalto.
A viagem começou a render, foram contornando
as montanhas, os caminhos eram quase sempre planos, andando a noite era escura,
o cansaço era muito, o jeito era parar logo na frente, espaço vazio, com pouca
vegetação com uns pés de Jequitibá muito grandes. Armaram o acampamento neste
local, limparam o terreno, juntaram madeira seca para acender as fogueiras, armaram
as barracas, desarrearam os animais; Zeca perguntou: “ Vocês não estão ouvindo
um barulho diferente?” , era uma cachoeira grande a uns duzentos metros de
distancia, pegaram água do lado da cachoeira, armaram os tripés, fogo nas
panelas, fizeram a pouca comida que restava, mais para as crianças, os adultos,
cansados com fome dormiram.
Acordando no dia seguinte já com
Sol alto, começaram a explorar a região, desceram do lado da cachoeira, uns
quinhentos metros de distancia, encontraram um poço muito grande que dava até
para andar de canoa, o que interessava eram os peixes, jogaram os anzóis,
pescando durante toda a parte da manhã, conseguiram uma boa quantidade peixes.
Voltaram para o acampamento,
limparam os peixes, botaram para assar, tiraram uma grande quantidade
armazenando-a, peneiraram para que não ficasse nenhuma espinha esse destinado
esses só para as crianças. O almoço foi farto, todos de barriga cheia, chegaram
até a cochilar.
Na parte da tarde Zeca lembrou
que tinha soltado os animais para pastar, pegou os cabrestos, trouxe para o
acampamento, quando estava amarrando em uma árvore do lado ouviu um barulho,
foi averiguar, era uma manda de jacus que faziam daquelas árvores seu
dormitório, saíram correndo, pegaram os rifles, resultado mataram seis Jacus.
Enquanto depenavam os jacus, ouviam os monos roncando e as onças uivando na
mata, os uivos pareciam um pouco longe, para a segurança providenciaram uma
quarta fogueira, assaram os jacus, jantar farto o sono bateu, acordaram no dia
seguinte com a claridade do Sol.
João foi pegar água para fazer
café, voltou correndo pegou o rifle ouviram dois tiros, correram até lá, era uma
capivara de uns trinta quilos, trouxeram para o acampamento penduraram em um
galho de árvore para escorrer o óleo durante a noite, no dia seguinte assaram
toda a carne.
O Zeca que não conseguia ficar parado
descobriu na parte da manhã ainda escuro uma árvore apinhada de jacus comendo
frutas, resultado, muito mais jacus abatidos, garantindo almoços e jantares.
Já no sexto dia, em andanças pela
região encontraram umas trilhas de pacas, não tinham cachorro para desentocar
os bichos, resolveram que um com um berrante desentocaria as pacas, dois na
beira do lago esperavam, em uma só noite mataram cinco pacas, o lugar era um
verdadeiro paraíso, tinha também um pé de Jacaracatia, uma fruta pequena de cor
amarela parecida com mamão, muito doce, que as crianças e adultos comiam toda a
manhã.
Estava tudo muito bom, mas a
viagem tinha que continuar, do oitavo para o nono dia muito cedo levantaram
acampamento, contornaram a cachoeira um quilometro abaixo, onde o rio era mais
baixo e muito largo, atravessaram pegando o outro lado, subindo, contornando
trocos de árvores, em umas duas horas saíram em um espaço descampado contornando
uma cordilheira, parando de vez em quando para comer, umas oito horas andando
começou a escurecer.
Andando mais um pouco ouviram
cachorros latindo, uma luz fraca e um casarão velho na parte de cima, cinco
crianças escurinhas desceram correndo ao encontro do grupo, começaram a brincar
com as crianças de Seu Agenor, em seguida chegou uma figura, um negão com dois
metros de altura, com uma barba enorme de chapelão na cabeça, um rifle papo
amarelo pendurado no ombro, disse:” Meu nome é Jacatirão”, cumprimentou assim:
“ Sódo sois cristê”( sois de de paz ), Agenor respondeu: “ Sou de paz”, logo em
seguida apareceu uma negona de um metro e oitenta, vendo do Anália e as
crianças, disse: “Voces vão ficar aqui, lá em cima tem um barracão, a Dona e as
crianças dormem na casa, os homi, dormem no barracão.”
A Dona Zezé tomou-se de amor
pelas crianças, o grupo ficou ali por quatro dias. No quinto dia tudo arrumado,
estavam saindo, escutaram barulho de cascos de animais, eram quatro homens a
cavalo, todos com rifles pendurados nos ombros, perguntaram a dona Zezé: “ Quem
são?” , “São jagunços, eles tem negócio com meu marido”, despediram-se e
seguiram nova caminhada, andando quase quatro horas só subindo, por um longo
trecho de poucos declives; andaram umas oito horas, já estava escurecendo,
encontraram um lugar onde tinha uma mina d´água, fazia muito frio, acamparam
ali por uma noite.
No dia seguinte levantaram cedo,
começaram a caminhar por um terreno horrível, muito acidentado, quando ouviram
um bando de animais, eram os jagunços que chegaram logo brincando com as
crianças, perguntaram:” Para onde vocês estão indo?” “ Queremos subir a
serra.”, “ Aqui por Taquaruna, com os animais pesados e as crianças, vai ser
muito difícil, o jeito é descer até aquele Jacarandá lá em baixo e contornar,
saindo em Caiana.” Conselho aceito. Seguiram contornando as montanhas, muita
água no caminho, após seis horas de caminhada encontraram um baixadão de
vegetação muito baixa que facilitava a caminhada, conseguiram andar uns vinte
quilômetros até as seis da tarde; encontraram uma lagoa muito grande em um lado
havia um espaço seco, pernoitaram ali.
Saíram no pela manhã contornando
árvores pequenas, quatro horas andando pegaram uma subida pequena, desceram e
atravessaram um rio, entraram por dentro de uma mata que parecia um túnel, um
quilometro de distancia saíram em frente, atravessaram o rio, seguindo com o
rio a esquerda logo em frente depois de uma lombada, avistaram o verdadeiro
paraíso, muitas montanhas que estavam tão longe que pareciam serem azuis.
Caminharam mais um pouco pela
beira do rio na parte de cima, uns quinhentos metros encontraram um lugar bom
para construir uma cabana, facão e foice na mão, limparam o espaço, capinaram o
chão, saíram para a mata cortaram galhos de árvores que seriam os caibros,
foram oito árvores para os esteios da cabana. Fincaram os troncos, num espaço
de dez por dez, levantaram a cumeeira colocaram os caibros, usaram a lonas para
cobrir uma parte, cobrindo o resto com galhos de coqueiros, cortaram um porção
de árvores de porte médio encaixaram uma em cima da outra, nas quatro laterais
da casa deixando uma na porta na frente e outra nos fundos. Zeca já tinha
cortado um bambu e feito uma bica de água do lado da casa.
O tempo foi passando melhoraram a
casa, quando surgiu o Sr. Lattorre em um cavalo puxando um burro, o negócio era
vender, Agenor comprou seis galinhas, um galo, uma quantidade de ovos, feijão,
arroz e fubá. Na semana seguinte ele apareceu trazendo quatro leitões, café em
grão para plantar e lhe deu um casal de cachorros de presente; os dois ficaram
muito amigos, Sr. Lattorre, descendente de italianos falava muito alto e era
muito alegre. Ele de vez em quando aparecia para almoçar, trocavam ideias, numa
dessas conversas ele informou que em Taquaruna existia um posto de venda de mercadorias que
os tropeiros traziam da capital .
Na semana seguinte Zeca e João
arrearam os animais e seguiram para Taquaruna, compraram brim e tecidos finos
para roupas femininas, querosene, sal, uma maquina de costura portátil usada em
bom estado de conservação, um gurpião para cerrar madeiras, munição para arma
de fogo, uma trempe para fogão de seis bocas, pernoitaram por lá, voltaram no
dia seguinte chegando por volta de meio dia. Montaram uma pequena serraria para
aparelhar madeira, tábuas e outras peças pesadas.
Em um certo dia quando estavam
almoçando, aparecerem os jagunços liderados por um tal de Monteiro, pediram
para comprar feijão, arroz fubá e toicinho. Sr. Agenor prontamente atendeu o
pedido, eles pagaram com um bom dinheiro, voltando outras vezes para comprar;
naquela época o jeito era atender, não era negócio criar atrito com eles, as consequências
seriam imprevisíveis.
O tempo ia passando a vida
continuava, Agenor foi a sitio do Macharete comprar um gado, comprou quatro
juntas para puxar as toras para a cerraria, mais cinco vacas leiteiras, bezerro
e um touro reprodutor.
Com a junta de bois para arrastar
as toras e a serraria para aparelhar a madeira Agenor resolveu reconstruir a
casa, mandou buscar Sr. Ferreira que entendia do negócio, Ferreira mediu o
espaço no terreno, calculou o peso por metro quadrado, pé direito alto, quatro
quartos grandes, uma sala de jantar, uma sala de visitas, cozinha na parte dos
fundos, uma cobertura em toda a extensão da casa, com um fogão dos fornos de
barro no fundo do terreno, a casa ficava alto do chão dois metros em toda a sua
extensão, o que servia para guardar arreios e mais o que era produzido na
propriedade, na entrada da casa havia um alpendre com uma escada de oito degraus;
o trabalho na lavoura não parou, cafezal, milho , cana de açúcar, as únicas coisas
que vinham de fora era sal e querosene.
Na parte do gado o retireiro Sr. Erotides era
quem cuidava, todos os dias na a tarde as vacas e os bezerros eram trazidos para
o curral, em um dia de rotina, quando eram separados os bezerros perceberam que faltava um, no dia seguinte começaram a procurar, em um
canto do pasto os urubus voando e passando nas arvores denunciaram, acharam os
restos do bezerro que a onça comeu e deixou ali; na época do inverno fazia
muito frio, os cachorros dormiam nos fornos de barro no fundo do terreno, por
diversas vezes as onças comeram cachorro dentro do forno, com o aumento das
lavouras e os caçadores elas foram desaparecendo.
O tempo ia passando, a fazenda
era um verdadeiro jardim atraindo o interesse de outros moradores da região,
entre eles o Sr. Feliciano Vitorino, que apresentou uma proposta de compra um tanto
irrecusável. Agenor pensou por uma semana e fechou o negócio, com a metade do
dinheiro que recebeu comprou uma propriedade muito grande a cinco quilômetros do
outro lado do rio, uns cento e oitenta alqueires, não tinha lavoura somente
pasto e uma casa modesta para onde mudou, fez mudanças na casa, construiu uma
cozinha grande e mais dois quartos; já existia na propriedade uma tulha, um
paiol, curral com cobertura para as vacas leiteiras, como tinha muito pasto,
comprou do Macharete quatro junta de bois para o carro de bois, seis vacas e um
lote de garrotes. Foi a casa do Zé Bilid comprou três cavalos de cela e um
burro de nome Fazendão que passou a ser seu meio de transporte.
Como movimentava uma relativa
quantidade de dinheiro e tinha dinheiro em casa resolveu procurar um banco, mandou
arrear o Fazendão e saiu de madrugada para Caparaó de Baixo, deixou o burro em
uma cocheira que tinha um negão que cuidava dos animais durante o dia, embarcou
no trem para Carangola, foi ao banco passou o dia todo lá, retornando a tarde
para Caparaó de Baixo, pegou o burro, chegando em casa já a noite.
Nas idas e vindas ao banco em
Carangola fez amizade com o gerente, Sr. Noronha, cliente do banco já há um ano
e meio, certo dia apareceram na sua casa uns boiadeiros com mil e quinhentas
cabeças de gabo já invadindo os pastos, com um bilhete do Noronha prometendo
arredamento do pasto, situação que deixou Agenor com a pulga atrás da orelha,
onde o gerente arranjou dinheiro para comprar tanto boi. Passado um mês ele foi
a Carangola e encontrou e seguinte situação, banco fechado, tremendo tumulto em
volta do banco, um oficial de justiça com uma papelada na mão, na ficha de
Agenor contavam mais de cem cheques com sua assinatura falsificada e o saldo na
conta era quase zero. Noronha foi preso, foi tudo parar na justiça, com o
recurso moroso da lei, o ressarcimento foi muito pouco, do gado que ficou no
seu pasto com pouca gente para cuidar, morreram algumas cabeças, o que restou
ele vendeu, mesmo assim ainda teve prejuízo.
Continuou a sua propriedade com um pequeno
gado e suas lavouras, seus pés de café que eram a sua paixão. Por insistência de
seus amigos tornou-se maçon, indo todo mês a Manhumirim participar das
reuniões, conseguindo ser benemérito grau trinta e três.
Agenor tinha quatro filhos, dois
tinham casa própria na sua propriedade Alfredo casado com Leopoldina Valério
tocava lavoura e tinha um pequeno gado, Dorca casada Neftali Peixoto tinha suas
lavouras e seus derivados, Isaias estudava em BH e Lucinda casada com um Pastor
Batista não morava lá.
Durante o retorno da uma viagem
ao Rio de Janeiro, numa parada de uma hora em Faria Lemos, andando pelas
pequenas ruas, Agenor encontrou uma mulher de cor negra com uma criança no colo,
loirinha e de olhos azius, perguntou a ela:” Mulher, onde você arranjou esse
filho branco?” ela retrucou “ Voce nunca viu galinha preta botar ovo branco?” ,
continuando a conversa descontraídos ela disse que era ama de leite da criança
e que tinha dois filhos pequenos, estava com dificuldade para cria-los, Agenor
pediu para levar as duas crianças, ela aceitou, o dois com suas trouxinhas,
seus nomes Gedeon e Dilermando, pagaram o trem o foram para Caparaó. Em uma de
suas viagens adotou mais, este de cor branca de nome João Batista.
Agenor era um homem muito
exigente, cobrador, porém muito honesto, impunha seus valores, primeiro
trabalho, segundo terra, com o produto do trabalho você faz a terra produzir, você
estuda, casa e institui família; os três filhos adotados viveram com ele até
casar no papel indo viver suas vidas em outros lugares.
Em sua propriedade o forte da
produção era o café, produzia milhos, suínos e até queijos, como as lavouras de
café naquela região cresceram muito, preço bom cotação em dólar, a cidade de
Manhumirim por estar mais perto das regiões produtoras e o dinheiro circulando
o progresso chegou trazendo bancos, colégios, faculdade, hospital, armazéns dos
compradores de café, onde Agenor e seus amigos fazendeiros iam quase toda
semana vender café, ir ao banco, fazer compras e que ninguém é de ferro ir ao
bar tomar suas cachaças, cervejas, whisky´s, prosear e contar piadas.
Agenor comprou e doou um terreno
em Jequitibá para a construção da loja maçônica, comprou um terreno em Alto
Caparaó para a construção da Igreja Batista, era membro da igreja, mas
frequentava muito pouco as reuniões.
Ano de 1942 a guerra se alastrava
pela Europa, o Fiher e seus generais
invadiram a Polônia, França e sua linha Maginot, a queda do falastrão Mussolini
na Itália, Normandia na Alemanha. Com o ataque dos japoneses a Pearl Harbour os
americanos que não gostavam pouco de guerra entraram com o que tinham e não
tinham na guerra, mandando tropas para a Europa.
Com a construção de material
bélico para a guerra, aviões, tanques, caminhões, porta aviões e outros de
menor importância, eram necessárias peças compostas por material isolante
elétrico e isolante ao calor; precisando de grande quantidade começaram a
procurar em alguns países, inclusive o Brasil, a exploração em alguns estados
não deu certo, a quantidade era pouca e de má qualidade; orientados pelo
departamento de mineralogia do Estado de Minas, foram parar em Caparaó,
alugaram um casarão em Caparaó de Baixo ficaram baseados ali.
Em uma segunda feira, em um jipe
e um jipão chegou uma equipe de geólogos americanos procurando o Sr. Agenor, as
apresentações, tomaram café, as formalidades, assinatura de papéis para a
exploração de mica ( malacaxeta ), sacramentado o acordo, começaram a explorar
na parte mais dos morros no Cauilim o resultado foi surpreendente, era muita
quantidade Mica encontrada. Passados seis meses Mr. Jhon um geólogo baixinho
resolveu morar mais perto do local da exploração, na parte de baixo da casa de
Agenor existia um espaço vazio um porão, Mr. Jhon aproveitou o espaço,
construindo uma casa com todo o conforto, um quarto grande, uma sala, banheiro
com água quente, geladeira e muito whisky de toda a qualidade, Mr. Jhon e Agenor
tornaram-se grandes amigos.
A exploração no Caulim estava
satisfatória, a cobrança por mais material e de melhor qualidade vinda da
América era toda a semana. Em um domingo apareceu para tomar café José
Petronilho, conhecido de Agenor, proprietário de uma pequena lavra, conversa
vai conversa vem, ficou sabedor da situação, informou que seu amigo Humberto
poderia resolver o problema; terminada a visita ficou combinado que ele iria a
Jequitibá acertar com o Humberto.
Com o compromisso de vir a
Caparaó na segunda feira da semana seguinte, conforme combinado, seis horas da
manhã Humberto apareceu, não era geólogo, o que sabia era o português e as
quatro operações aprendido com uma professora que dava aulas a noite nas
propriedades e nas casas. Tomaram café, trocaram prosas e foram para o local,
distante um quilometro da propriedade, situada entre dois morros em uma grande
grota, o americano não acreditando muito em Humberto queria subir o morro,
Humberto criado na região conhecia bem o terreno, pela sua orientação
contrariando o americano começaram a trabalhar na grota, enxada na mão foi-se
um dia de trabalho, as picaretas romperam pedaços de uma rocha branca Feldspato
com vestígios de Malacaxeta, Humberto deu as coordenadas, emborcaram um túnel. “
Nesta lateral tem toneladas de material para explorar”, missão cumprida recebeu
pagamento pelo serviço prestado encerrando sua responsabilidade.
A operação do Feldspato demandava
outra tecnologia, os caminhões começaram a chegar trazendo todo o material,
caldeira de alta pressão, marteletes, dinamites, carrinhos de mão e muitos
outros acessórios; construíram um galpão muito grande com dormitório e
refeitório para os operários, passados dois meses a movimentação era muito
grande, os caminhões subiam e desciam todos os dias trazendo material e levando
a mica para Caparaó de Baixo.
Nas oficinas de beneficiamento o dinheiro
corria solto, muita gente ganhando direta e indiretamente. No caso da lavra de
situada na propriedade de Agenor a maior da região, e de melhor qualidade,
marca Rubi, Agenor possuía 30% de tudo que era
apurado em dinheiro.
O tempo passando quando em 1945
com a rendição das tropas na Europa e guerra terminou, os americanos voltaram a
América, não tendo necessidade da importação da mica os americanos deixaram Caparaó,
levando o maquinário pesado e mais caro, deixando em Caparaó os jipões e jipinhos,
Mr. Jhon despede de Agenor quase chorando regressando para sua terra em
definitivo.
A exploração no Caulim continuou
por algum tempo, já a do Feldspato por ser muito cara e exigir tecnologia, o
preço da mica muito baixo, não compensava, a lavra na terra de Agenor com túnel
de 200 metros de profundidade encheu de água e foi desativada.
O tempo passou a vida continuou
Agenor partiu para fazer o que mais gostava plantar café. Começou a se
organizara procurando empregados para trabalhar, contratou oito mais dois que
moravam um uma tulha ao lado da casa, Josécomel e Sebastião, o trabalho era
derrubar capoeira, fazer covas para plantar e puxar enxada no cafezal já existente,
um desses empregados era crente, chegava todo dia mais tarde na lavoura, motivo
tinha que ficar uma hora lendo a bíblia antes de pegar no batente, um dia da
semana Agenor foi até a lavoura, as seis horas da manhã brincalhão encarnando
na turma notou que o crente chegou mais tarde, sabedor da situação, mandou
chamar o homem em casa dias trabalhados, acertou sua conta, pagou, não
permitindo a desonestidade com os outros empregados, ao entregar o dinheiro do
pagamento disse:” Agora você vai ler sua bíblia onde quiser.”
Todo o ano Agenor plantava um
arrozal em uma vargem ao lado da casa, junto com os outros empregados
trabalhava uma figura, seu nome Anibal, baixinho, muito branco, gordinho, só
tinha um dentão na parte superior da boca, usava um chapeuzinho cocô preto na
cabeça, trabalhava sempre no arrozal por ser trabalho mais leve, no termino da
semana em um sábado Anibal pediu um vale perguntado qual era o motivo, disse:”
Vou a rua tirar um retrato.” Na semana
seguinte Almiro perguntou a Anibal: “ Tirou o retrato?” ele tirou do bolso mostrando
e disse: “ Trem Chique Sô!”, provocando uma grande risada, conclusão o retrato
foi parar no arrozal para espantar passarinho.
A movimentação da propriedade
aumentava a cada dia, era acerto de conta dos meeiros, pagamento de empregados,
o que era comprado para suprimento, conta nos bancos e despesas pessoais; em um
dia a noite ficou acertado que no dia seguinte trabalharíamos o dia inteiro no
acerto das contas, acordamos cedo, seis horas da manhã, papelada enchia a mesa,
somando e multiplicando tudo no papel, o tempo passou rápido, a cozinheira
gritando na cozinha: “ O almoço ta na mesa!”, Agenor vai ao quarto e pega um
vidro de whisky. “ Vamos tomar uma cachaça americana e vamos almoçar.” ,
pegamos novamente após o almoço, assim mesmo sobrou serviço para o dia
seguinte.
Agenor costumava tomar banho todo
o dia a tardinha, entrava no seu quarto ficava peladão, vestia uma capa gaúcha que
cobria o corpo do pescoço aos pés, capa que ele usava a cavalo quando o tempo
estava muito frio, atravessava todo o terreiro, passava por um espaço cimentado
do lado do curral, um reservatório que acumulava água de um ribeirão inteiro
produzindo pressão para movimentar um motor elétrico e o moinho de fubá, ele
ficava nesse banho embaixo daquela água toda por quase uma hora.
Agenor era muito vaidoso em um
final de semana se arrumou todo bonito, botou seus óculos Ray Ban foi a sede do
município receber o titulo menção honrosa concedida pelo governo do Estado de
Minas em virtude de ser o primeiro a plantar café naquela região, voltando da
festa todo feliz foi muito cumprimentado pelos seus amigos; a vida continuou,
trabalhamos a semana inteira, no sábado fomos a rua fazer umas compras, na
padaria compramos umas quitandas, passamos no botequim e tomamos umas e outras
e nos preparamos para voltar, Almiro foi a cocheira pegar os três animais,
quando íamos voltando para a casa, Agenor montado no burro eu em um cavalo e Almiro em outro, íamos
passando por uma propriedade muito bonita quando de repente surgiram duas
loiras montadas a cavalo, Agenor perdeu a timidez foi encostando o burro do
lado das loiras . “ Moças bonitas, vamos tomar conhecimento!”, Almiro caiu na
risada “ Tomar conhecimento?! Esse trem vende engarrafado? Que figura!”. Por
supuesto madressita mia!