Eu faço parte desse sonho
Eu tinha um amigo em Paraíba do
Sul, morávamos na mesma rua, fomos praticamente criados juntos. Wilson Barros
Onefre, tinha uma personalidade muito forte ( pavio curto), certa ocasião ele
apareceu na Emboaba, onde eu trabalhava, dizendo “ Preciso falar com você. O
assunto é o seguinte, meu pai é muito amigo do Pereira, vendedor da Antartica
que faz a praça aqui nesse região. O caso é o seguinte, a Antartica tem um
projeto para montar um depósito de exclusividade em uma firma na cidade de
Vassouras, já falei com o Pereira, você tem que ir para lá.” Fui para casa
pensei com os meus botões, no dia seguinte encontrei com Wilson e dei a
resposta “ Pode informar ao Pereira que aceito”, três dias passados já era
final do mês, pedi demissão da Emboaba, logo em seguida ele ligou informando “
Domingo, dia cinco, você vai para Barra do Pirai, almoçar com o Pereira”, fui
para o almoço passei o dia inteiro lá, conversamos bastante,, recebi todas as
coordenadas. No mesmo dia a noite fui para Vassouras, com a cara e a coragem,
passei o resto da noite acordado junto com uns pinguços que estavam na praça,
assim que clareou o dia, por informação de um dos bebuns encontrei uma pensão
bem barata, onde fui morar, Pensão da Dona Laura; em seguida comecei a procurar
um galpão para alugar, por informação de alguém encontrei na rua Caetano
Furquim, o galpão de propriedade do Sr. Jorge Ferreira, gente muito fina, fiz
uma proposta e ele aceitou, não impôs nenhuma garantia, tudo acertado, galpão
alugado.
A partir do espaço garantido,
comecei a contratar caminhões da própria cidade, trazendo a cerveja do Rio para
Vassouras.
A cerveja começou a chegar, mas o
guaraná champagne que era o carro chefe na época, lotei o depósito de
engradados na sua capacidade, comecei a correr a praça para vender, no primeiro
mês, só saiu uma meia dúzia de engradados. No segundo mês já vendi uma
quantidade, a partir do terceiro mês, esvaziei o depósito, tudo que chegava
vendia. O depósito ficou pequeno para a demanda do mercado, o jeito foi
procurar um depósito maior; eu tomava café todo o dia no bar do Dedé, tinha uma
figura que também tomava café na mesma hora, junto comigo, seu Mané Fulero,
comentei com ele que estava procurando um espaço maior para o depósito, no dia
seguinte ele comentou: “ Na Chácara da Hera tem um galpão grande vazio, procura
o Joaquim Pescoço, que ele é o dono.” Fui ao encontro do Sr. Joaquim e consegui
alugar o depósito, o espaço precisava de alguns reparos, o próprio Sr. Joaquim
contratou um pedreiro e ajudante em vinte dias o depósito estava pronto. Logo
em seguida informei ao Sr. Gustavo no Rio que o novo depósito estava apto a
receber dois mil engradados. Estávamos no mês de outubro, quando numa segunda
feira estacionavam na rua do depósito
dez caminhões da empresa Roda Branca, lotados de cerveja e guaraná; de outubro
até dezembro, vendi todo o estoque, a quantidade de cerveja que chegasse,
vendi.
Passei a ser chamado de “ O moço
da Antartica”, o tempo passou e na convivência com as pessoas da cidade,
conheci Toninho Capute e sua companheira Conceição, que tornaram-se meus amigos
do peito, por intermédio dos dois conheci a menina mais linda da cidade, como
sou um homem de sorte, casei com ela. Passado um determinado tempo, já tinha
duas filhas pequenas, Toninho Capute apareceu na casa que eu morava acompanhado
do Sr. Álvaro Maia, com o seguinte assunto: “ Estou reformando a casa do Álvaro
lá em Paulo de Frontin, ele me pediu para arranjar candidatos para trabalharem
em uma obra da Petrobrás em Duque de Caxias; Voce esta dentro do perfil que ele
esta precisando”, não aceitei a proposta alegando que não tinha capacidade para
trabalhar em uma empresa tão importante, o Álvaro entrou na conversa com um
papel na mão e pediu que eu escrevesse meu nome e endereço, de posse do
formulário já escrito, “ Com uma caligrafia bonita igual a essa, sua chance é
muito grande. “Os dois se despediram e foram embora.
Passado três meses recebi um
telegrama para me apresentar no escritório da empresa no Rio, localizando na
Rua Teófilo Otoni. No dia marcado compareci ao escritório, preenchi uma ficha
com todos os requisitos necessários; me pediram para descer, um jipe estava
estacionado na porta do edifício, que nos levou até Campos Elíseos, distrito de
Duque de Caxias, local da construção do complexo petroquímico da Petrobrás.
Em um barracão grande, muito
comprido, algumas pessoas já distribuíam os formulários das provas, que
constavam, português, matemática e história geral, prazo para execução, uma
hora; fiz a prova em quarenta minutos e fui para outra sala esperar o
resultado, após mais uma hora de espera, Seu Josimar anunciou: “Sr. Agur,
aprovado; apresente-se aqui no dia primeiro para trabalhar”.
No dia primeiro de junho
apresentei-me para trabalhar, o Sr. Haroldo Barros era o chefe do setor de
comunicações, ele me pediu para organizar a entrada e saída de correspondências
e plantas das diversas empreteiras que operavam na obra. A sigla do setor era
SETRAF, com uma lotação de oito datilógrafos e vinte e seis contínuos, que
todos os dias faziam a distribuição das correspondências e documentações dos
diversos setores da obra.
A construção da fabrica tinha como sigla
FABOR, chefiada por Dr. Leopoldo Miguez de Melo, homem simples e honrado a toda
prova, chegava religiosamente todos os dias às sete da matina, pega com os
contínuos as botas de borracha o capacete e saía enfrentando lama, mosquito e
muito calor, só voltava as onze horas para despachar no seu escritório, ao meio
dia subia para almoçar no restaurante situado em um galpão muito grande no
Morro do Mosquito; no sistema de bandejão, todos os operários da obra
indistintamente enfrentavam o bandejão que era de ótima qualidade.
No passar do tempo, a primeira fase
da obra concluída, o Dr. Leopoldo resolveu comemorar, solicitou do Joel, chefe
do restaurante, que na próxima sexta feira, providenciasse e organizasse uma
feijoada com todo o requinte, não poderia faltar um detalha, ele solicitou que
fosse colocada em cada bandeja uma xícara de cachaça, foi um tremendo sucesso,
provocando um clima de satisfação e harmonia em todo o operariado.
Mais um ano se passou as obras
das empreiteiras terminadas, começou-se a construção da Fabrica propriamente
dita. Baseado na lei 2004, do governo Juscelino, foi dada isenção do IPI para a
importações que não tivessem similar no Brasil; Muitas peças fabricadas pelas
siderúrgicas mineiras foram usadas na obra. Planta da Blaunox, firma francesa,
construção das unidades a seguir, tanque de salmoura, amônia, casa de força com
caldeiras que tem capacidade para fornecer energia elétrica a uma cidade de
vinte e cinco mil habitantes; as unidades de estireno e butadieno, os
pipirreque e tubulações; a construção do prédio do refeitório, projeto do
professor Nyemeyer, uma obra muito bonita; construção do prédio da
administração, onde funcionavam todos os escritórios;
Com tudo praticamente construído
começou a fase da pré operação, quase todos os operários que trabalhavam na
obra foram aproveitados para trabalhar na fabrica; trabalhadores braçais sigla
TB, mais grande parte dos burocratas, uma atitude muito bonita e honesta da
administração. No meu caso, que já tinha experiência na área de vendas, fui
procurado pelo professor Jaci Moraes e fiz prova para este departamento; muitos
dos profissionais das áreas mais importantes, engenheiros, químicos e físicos
foram requisitados do exterior, como por exemplo Alfredo Chaibler e outros;
Silvio Pinguele Rosa também passou por lá.
Todos os técnicos altamente
gabaritados foram admitidos sem nenhum privilégio politico, como o usual
atualmente.
Tudo montado começou a produção
do SBR, sigla originada: Stairener, Buna e Ruber. SBR 1500, 1502, 1510, 1700,
1712 e 1710, mais o látex sintéticos.
Oitenta por cento do mercado era São Paulo,
devido as fabricas de pneus localizadas na região, fornecendo material também
para as recauchutadoras, em consequencia disso a gerência de vendas chefiada pelo engenheiro Assis Esmeraldo Coutrin era em São Paulo. A outra fatia de mercado era situada na grande Belo Horizonte e regiões adjacentes como Betin e Nova Serrana onde eu e meu amigo Mauro prestavámos assistencia de vendas uma vez por ano, com muitas histórias pra contar. Abastecendo
toda a região, passei a trabalhar no setor de crédito e cobrança, SECOB, que
fazia faturamento, área fiscal e
pagamento de impostos; na secretaria, setor do dinheiro, o chefe era meu amigo
Manga Rosa.
Tudo funcionava muito bem até que
em 1964 estourou o golpe militar, prenderão muita gente, para eles todos que trabalhavam na fabrica eram comunistas,
muita perseguição, meu amigo Oto Leoni Greco andou pagando o pato, alguns foram
demitidos sem justa causa, principalmente que participava do sindicato; assumiu
a gerencia da fábrica o General Mauricio Correia, no sábado seguinte eu tinha
que fechar o faturamento já que naquela época tudo era feito à mão, três
datilógrafos para bater as duplicatas mais o mapa de pagamento do imposto; sem
que esperássemos apareceu o General alegando que estávamos fazendo a indústria
do serão, fiquei Pê da vida, fui dizendo: “ Isto aqui não é quartel! O senhor
não entende nada, isto é uma fábrica que produz e tem que vender!” ele fez uma
cara de arrogado e foi embora.
Na segunda feira seguinte mandou
me chamar na gerencia, todo solicito passou a perguntar por muitos detalhes do
funcionamento do faturamento e dos setores da administração, durante todo o
tempo que esteve na gerencia, que não foi muito, quando tinha problemas,
mandava me chamar. Logo em seguida foram saindo da empresa, pois sentiram que não
era sua praia, encerrada a fase militar.
Assume a superintendência o engenheiro
Dr. Paulo Lima Câmara, na área de produção engenheiro Pascoal, Ciro Zander,
Marcão, Nelson Cher Éder, engenheiro Edvaldo Bogli; diretor de administração
Dr. Luis Mario, gente muito boa, muito humano, que com sua generosidade sabia
administrar, eu era o homem de confiança e chefiava o setor de vendas; quanta saudade
dos meus amigos Teixerão e Assis Mineiro, todo segunda feira apareciam no setor
para saber a previsão do butadieno e estireno para a semana.
A fabrica estava em uma fase
muito boa, tudo que produzia vendia, existia uma harmonia entre o setor de
produção e vendas, igual orçamento, mais dinheiro, menos despesas; o vermelho
nunca existia, a exportação de estireno para a Pelmex no México era o fiel da
balança.
Eu viajava muito para São Paulo e
Belo Horizonte, os dois mercados que absorviam quase tudo que produzíamos, a
situação da empresa era a melhor possível, eu já estava trabalhando com direito
a aposentadoria a mais de 10 anos, recebendo suplementação baseada na lei CLT.
Quando tudo parecia que estava muito bem, um colorido das Alagoas sobre a égide
dos idiotas resolve privatizar tudo, foi um dos tristes da minha vida, não por
mim que já estava aposentado.
Fui à empresa naquele dia para
passar algumas orientações ao meu substituto, os ônibus que chegavam trazendo o
pessoal para trabalhar ficavam estacionados em uma área grande do lado de fora,
neste dia eles esperaram o pessoal entrar e colocaram todos os ônibus no pátio
interno da empresa e todos os operários que estavam nos seus postos para um dia
de trabalho foram intimados, alguns a força, a entrar nos ônibus recebiam um papelucho
de demissão, muita gente chorando, os malas e oportunistas que trabalhavam na empresa,
que não merecem ter seus nomes citados aqui, atuaram nesse processo,
infelizmente os Silvérios dos Reis ainda militam por aí, prejudicaram muita
gente e o sonho de trabalho, honestidade e honradez. Tenho dito.
Obs: Não sou contra a privatização, muito pelo
contrário, mas na base da truculência e desonestidade, beneficiando grupos
externos.
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