terça-feira, 28 de agosto de 2012


Eu faço parte desse sonho


Eu faço parte desse sonho

Eu tinha um amigo em Paraíba do Sul, morávamos na mesma rua, fomos praticamente criados juntos. Wilson Barros Onefre, tinha uma personalidade muito forte ( pavio curto), certa ocasião ele apareceu na Emboaba, onde eu trabalhava, dizendo “ Preciso falar com você. O assunto é o seguinte, meu pai é muito amigo do Pereira, vendedor da Antartica que faz a praça aqui nesse região. O caso é o seguinte, a Antartica tem um projeto para montar um depósito de exclusividade em uma firma na cidade de Vassouras, já falei com o Pereira, você tem que ir para lá.” Fui para casa pensei com os meus botões, no dia seguinte encontrei com Wilson e dei a resposta “ Pode informar ao Pereira que aceito”, três dias passados já era final do mês, pedi demissão da Emboaba, logo em seguida ele ligou informando “ Domingo, dia cinco, você vai para Barra do Pirai, almoçar com o Pereira”, fui para o almoço passei o dia inteiro lá, conversamos bastante,, recebi todas as coordenadas. No mesmo dia a noite fui para Vassouras, com a cara e a coragem, passei o resto da noite acordado junto com uns pinguços que estavam na praça, assim que clareou o dia, por informação de um dos bebuns encontrei uma pensão bem barata, onde fui morar, Pensão da Dona Laura; em seguida comecei a procurar um galpão para alugar, por informação de alguém encontrei na rua Caetano Furquim, o galpão de propriedade do Sr. Jorge Ferreira, gente muito fina, fiz uma proposta e ele aceitou, não impôs nenhuma garantia, tudo acertado, galpão alugado.

A partir do espaço garantido, comecei a contratar caminhões da própria cidade, trazendo a cerveja do Rio para Vassouras.

A cerveja começou a chegar, mas o guaraná champagne que era o carro chefe na época, lotei o depósito de engradados na sua capacidade, comecei a correr a praça para vender, no primeiro mês, só saiu uma meia dúzia de engradados. No segundo mês já vendi uma quantidade, a partir do terceiro mês, esvaziei o depósito, tudo que chegava vendia. O depósito ficou pequeno para a demanda do mercado, o jeito foi procurar um depósito maior; eu tomava café todo o dia no bar do Dedé, tinha uma figura que também tomava café na mesma hora, junto comigo, seu Mané Fulero, comentei com ele que estava procurando um espaço maior para o depósito, no dia seguinte ele comentou: “ Na Chácara da Hera tem um galpão grande vazio, procura o Joaquim Pescoço, que ele é o dono.” Fui ao encontro do Sr. Joaquim e consegui alugar o depósito, o espaço precisava de alguns reparos, o próprio Sr. Joaquim contratou um pedreiro e ajudante em vinte dias o depósito estava pronto. Logo em seguida informei ao Sr. Gustavo no Rio que o novo depósito estava apto a receber dois mil engradados. Estávamos no mês de outubro, quando numa segunda feira estacionavam na rua  do depósito dez caminhões da empresa Roda Branca, lotados de cerveja e guaraná; de outubro até dezembro, vendi todo o estoque, a quantidade de cerveja que chegasse, vendi.

Passei a ser chamado de “ O moço da Antartica”, o tempo passou e na convivência com as pessoas da cidade, conheci Toninho Capute e sua companheira Conceição, que tornaram-se meus amigos do peito, por intermédio dos dois conheci a menina mais linda da cidade, como sou um homem de sorte, casei com ela. Passado um determinado tempo, já tinha duas filhas pequenas, Toninho Capute apareceu na casa que eu morava acompanhado do Sr. Álvaro Maia, com o seguinte assunto: “ Estou reformando a casa do Álvaro lá em Paulo de Frontin, ele me pediu para arranjar candidatos para trabalharem em uma obra da Petrobrás em Duque de Caxias; Voce esta dentro do perfil que ele esta precisando”, não aceitei a proposta alegando que não tinha capacidade para trabalhar em uma empresa tão importante, o Álvaro entrou na conversa com um papel na mão e pediu que eu escrevesse meu nome e endereço, de posse do formulário já escrito, “ Com uma caligrafia bonita igual a essa, sua chance é muito grande. “Os dois se despediram e foram embora.

Passado três meses recebi um telegrama para me apresentar no escritório da empresa no Rio, localizando na Rua Teófilo Otoni. No dia marcado compareci ao escritório, preenchi uma ficha com todos os requisitos necessários; me pediram para descer, um jipe estava estacionado na porta do edifício, que nos levou até Campos Elíseos, distrito de Duque de Caxias, local da construção do complexo petroquímico da Petrobrás.

Em um barracão grande, muito comprido, algumas pessoas já distribuíam os formulários das provas, que constavam, português, matemática e história geral, prazo para execução, uma hora; fiz a prova em quarenta minutos e fui para outra sala esperar o resultado, após mais uma hora de espera, Seu Josimar anunciou: “Sr. Agur, aprovado; apresente-se aqui no dia primeiro para trabalhar”. 

No dia primeiro de junho apresentei-me para trabalhar, o Sr. Haroldo Barros era o chefe do setor de comunicações, ele me pediu para organizar a entrada e saída de correspondências e plantas das diversas empreteiras que operavam na obra. A sigla do setor era SETRAF, com uma lotação de oito datilógrafos e vinte e seis contínuos, que todos os dias faziam a distribuição das correspondências e documentações dos diversos setores da obra.

 A construção da fabrica tinha como sigla FABOR, chefiada por Dr. Leopoldo Miguez de Melo, homem simples e honrado a toda prova, chegava religiosamente todos os dias às sete da matina, pega com os contínuos as botas de borracha o capacete e saía enfrentando lama, mosquito e muito calor, só voltava as onze horas para despachar no seu escritório, ao meio dia subia para almoçar no restaurante situado em um galpão muito grande no Morro do Mosquito; no sistema de bandejão, todos os operários da obra indistintamente enfrentavam o bandejão que era de ótima qualidade.

No passar do tempo, a primeira fase da obra concluída, o Dr. Leopoldo resolveu comemorar, solicitou do Joel, chefe do restaurante, que na próxima sexta feira, providenciasse e organizasse uma feijoada com todo o requinte, não poderia faltar um detalha, ele solicitou que fosse colocada em cada bandeja uma xícara de cachaça, foi um tremendo sucesso, provocando um clima de satisfação e harmonia em todo o operariado.

Mais um ano se passou as obras das empreiteiras terminadas, começou-se a construção da Fabrica propriamente dita. Baseado na lei 2004, do governo Juscelino, foi dada isenção do IPI para a importações que não tivessem similar no Brasil; Muitas peças fabricadas pelas siderúrgicas mineiras foram usadas na obra. Planta da Blaunox, firma francesa, construção das unidades a seguir, tanque de salmoura, amônia, casa de força com caldeiras que tem capacidade para fornecer energia elétrica a uma cidade de vinte e cinco mil habitantes; as unidades de estireno e butadieno, os pipirreque e tubulações; a construção do prédio do refeitório, projeto do professor Nyemeyer, uma obra muito bonita; construção do prédio da administração, onde funcionavam todos os escritórios;

Com tudo praticamente construído começou a fase da pré operação, quase todos os operários que trabalhavam na obra foram aproveitados para trabalhar na fabrica; trabalhadores braçais sigla TB, mais grande parte dos burocratas, uma atitude muito bonita e honesta da administração. No meu caso, que já tinha experiência na área de vendas, fui procurado pelo professor Jaci Moraes e fiz prova para este departamento; muitos dos profissionais das áreas mais importantes, engenheiros, químicos e físicos foram requisitados do exterior, como por exemplo Alfredo Chaibler e outros; Silvio Pinguele Rosa também passou por lá.

Todos os técnicos altamente gabaritados foram admitidos sem nenhum privilégio politico, como o usual atualmente.

Tudo montado começou a produção do SBR, sigla originada: Stairener, Buna e Ruber. SBR 1500, 1502, 1510, 1700, 1712 e 1710, mais o látex sintéticos.

 Oitenta por cento do mercado era São Paulo, devido as fabricas de pneus localizadas na região, fornecendo material também para as recauchutadoras, em consequencia disso a gerência de vendas chefiada pelo engenheiro Assis Esmeraldo Coutrin era em São Paulo. A outra fatia de mercado era situada na grande Belo Horizonte e regiões adjacentes como Betin e Nova Serrana onde eu e meu amigo Mauro prestavámos assistencia de vendas uma vez por ano, com muitas histórias pra contar. Abastecendo toda a região, passei a trabalhar no setor de crédito e cobrança, SECOB, que fazia faturamento,  área fiscal e pagamento de impostos; na secretaria, setor do dinheiro, o chefe era meu amigo Manga Rosa.

Tudo funcionava muito bem até que em 1964 estourou o golpe militar, prenderão muita gente, para eles todos  que trabalhavam na fabrica eram comunistas, muita perseguição, meu amigo Oto Leoni Greco andou pagando o pato, alguns foram demitidos sem justa causa, principalmente que participava do sindicato; assumiu a gerencia da fábrica o General Mauricio Correia, no sábado seguinte eu tinha que fechar o faturamento já que naquela época tudo era feito à mão, três datilógrafos para bater as duplicatas mais o mapa de pagamento do imposto; sem que esperássemos apareceu o General alegando que estávamos fazendo a indústria do serão, fiquei Pê da vida, fui dizendo: “ Isto aqui não é quartel! O senhor não entende nada, isto é uma fábrica que produz e tem que vender!” ele fez uma cara de arrogado e foi embora.

Na segunda feira seguinte mandou me chamar na gerencia, todo solicito passou a perguntar por muitos detalhes do funcionamento do faturamento e dos setores da administração, durante todo o tempo que esteve na gerencia, que não foi muito, quando tinha problemas, mandava me chamar. Logo em seguida foram saindo da empresa, pois sentiram que não era sua praia, encerrada a fase militar.

Assume a superintendência o engenheiro Dr. Paulo Lima Câmara, na área de produção engenheiro Pascoal, Ciro Zander, Marcão, Nelson Cher Éder, engenheiro Edvaldo Bogli; diretor de administração Dr. Luis Mario, gente muito boa, muito humano, que com sua generosidade sabia administrar, eu era o homem de confiança e chefiava o setor de vendas; quanta saudade dos meus amigos Teixerão e Assis Mineiro, todo segunda feira apareciam no setor para saber a previsão do butadieno e estireno para a semana.

A fabrica estava em uma fase muito boa, tudo que produzia vendia, existia uma harmonia entre o setor de produção e vendas, igual orçamento, mais dinheiro, menos despesas; o vermelho nunca existia, a exportação de estireno para a Pelmex no México era o fiel da balança.

Eu viajava muito para São Paulo e Belo Horizonte, os dois mercados que absorviam quase tudo que produzíamos, a situação da empresa era a melhor possível, eu já estava trabalhando com direito a aposentadoria a mais de 10 anos, recebendo suplementação baseada na lei CLT. Quando tudo parecia que estava muito bem, um colorido das Alagoas sobre a égide dos idiotas resolve privatizar tudo, foi um dos tristes da minha vida, não por mim que já estava aposentado.

Fui à empresa naquele dia para passar algumas orientações ao meu substituto, os ônibus que chegavam trazendo o pessoal para trabalhar ficavam estacionados em uma área grande do lado de fora, neste dia eles esperaram o pessoal entrar e colocaram todos os ônibus no pátio interno da empresa e todos os operários que estavam nos seus postos para um dia de trabalho foram intimados, alguns a força, a entrar nos ônibus recebiam um papelucho de demissão, muita gente chorando, os malas e oportunistas que trabalhavam na empresa, que não merecem ter seus nomes citados aqui, atuaram nesse processo, infelizmente os Silvérios dos Reis ainda militam por aí, prejudicaram muita gente e o sonho de trabalho, honestidade e honradez. Tenho dito.
Obs: Não sou contra a privatização, muito pelo contrário, mas na base da truculência e desonestidade, beneficiando grupos externos.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012



As histórias do filho do Seu Badico nos idos de 1950, a cidadezinha de Paraíba do Sul, era um verdadeiro paraíso. O Rio Paraíba era um riozão, a molecada se esbaldava nas praias, tomando banho quase todo dia. O que dava o maior charme a cidade era a estação ferroviária, os trens da bitola larga e bitola estreita partindo das estações de Barão de Mauá e Central do Brasil no Rio de Janeiro, com os trens noturnos partindo de Barão de Mauá para a Zona da Mata mineira e da Central do Brasil para Belo Horizonte; naquela época os trens eram a principal meio de transporte de passageiros, tendo o S2 e S1 em horários alternados, os trens eram também o principal meio de transporte de cargas como por exemplo minério de ferro.

Eu morava em uma pracinha chamada Lava Pés de uma tinha a Igreja de Santana do outro a Mansão do Dr. Sabino Souto, moldurando a praça tinha uma mangueira, a árvore era tão grande que a molecada brincava de pique nos seus galhos, quando na hora de queimada o garoto tinha que pular do galho que estivesse, consequência, de vez em quando aparecia um com o pé engessado.

Eu tinha um compromisso todo o dia, ali pelas seis horas da tarde, tomava meu banho, calçava meu tamanquinho de madeira todo gasto, dava pra sentir as pedrinhas da calçada e ia na padaria do Sr. Amador Rios comprar pão, as moças que me atendiam me agarravam e me enchiam de beijos, eu voltava para casa com saquinho de pão todo feliz, me achando o tal.

Estudava no grupo escolar Andrade Figueira, entra burro sai na cocheira, um colégio importante, tinha uma quantidade 600 alunos, se não me engano. A diretora Sr.ª Glória Berthone, gente muito fina, de boas lembranças; a zeladora do colégio Dona Dorvalina, que servia na merenda como de leite para os alunos, quando chegava minha vez, me deixava tomar quantos copos quisesse, pois eu, poucas vezes aparecia, ficava na bagunça com meus colegas.

Estudei, fiz todo o primário e o admissão, recebendo os diplomas. Tínhamos um time de pelada, lembro muito dos meus amigos de futebol, José e Chico Farias, o Zé Mão de Onça era o goleiro, outros mais como Helinho, Renato e José Figueiredo. O José Farias, hoje é auditor fiscal numa dessas empresas de auditoria.  

Voltando a falar da cidade, na Rua das Flores existia o ginásio dirigido pelo professor Gonçalves, onde muita gente boa se formou; outra rua importante era a Rua das Palhas, uma rua muito grande, onde existiam muitas mansões, inclusive dos meus amigos Penas Ribas, era uma rua muito bonita margeada de um lado pela ferrovia bitola estreita, de outro uma carreira grande de árvores e eucaliptos. O escritor Giusepe Guiaroni, uma figura importante, não me recordo se morava nessa rua, autor de um poema muito bonito de nome “O Beijo “, hoje acho que ele é funcionário da Rede Globo.

Ao falar das famílias importantes, não poderia deixar de citar os Visconti, Dona Nair, minha professora; dos D’Angelos, do Nelon D’Angela, grande zagueiro do Riachuelo e da Katia, da área de cultura, artes inclusive cinema. Ao falar de cultura, tenho que falar de outra que é muito importante, a da terra; a Fazenda Itiaca do saudoso amigo Alberto Paes.

Vamos falar agora do famoso Jardim Velho, ocupava um quarteirão inteiro, com suas árvores centenárias, como Jamelão, Oiti e outras, possuía diversas estátuas de mármore e um coreto que tão grande, que sua parte de baixo era um depósito de material da prefeitura, em uma de suas laterais o limite era somente a rua, em seguida a praia que era paraíso da criançada e dos marmanjos que tomavam banho em suas farras aos finais de semana. Dentro do jardim existia um caramanchão, com um banco todo emoldurado com motivos da época, dos seus quatro lados só existia visão na parte da frente, tinha uma menina moça que nas tardes de sexta e sábado, tomava seu banho e vinha somente com um vestido sem sutiã e calcinha, eu e ela namorávamos ali à vontade, o “ bicho pegava”, até que uma figura indiscreta descobriu e acabou com a nossa farra; notadamente o velho jardim era o paraíso dos namorados.

 A cidade tem uma ponte muito bonita, é larga, com mão e contra mão, tendo espaço nas laterais para pedestres, ligando a Fonte Salutaris pelo lado esquerdo e aos bairros Santo Antonio da Encruzilhada, Werneck e outros, pelo lado direito; rio acima, distante mais ou menos 1 km, tem a Ponte Preta, muito bonita e extensa, pertenceu à extinta ferrovia bitola estreita.

A cidade vivia muito em função do rio, existiam muitos peixes de várias espécies, tendo assim muitos pescadores, que possuíam vários barcos, sendo quase uma colônia. Por falar em pescadores, as histórias eram muitas, a colônia dos mentirosos. Existiam na cidade dois bares o Simpatia e o 7 de Setembro; no Simpatia do meu amigo Paraguai, todas as segundas era fixado num espelho na parede do bar, um documento datilografado com a seleção dos mentirosos, inclusive com técnico e massagista. Havia também uma figura cognominada amigo da onça, baixinho com seu chapeuzinho preto, de terno e gravata, que atiçado pela galera despejava seu tremendo repertório de mentiras; outra figura que a turma gostava, na base da gozação, de incentivar, Sr. Ariolário, guarda chaves da rede ferroviária, cargo que exercia como modesto funcionário da rede; sua pretensão era se candidatar a vereador no município, com quase nenhuma possibilidade, a galera dos atiçadores o convidou a criar um partido, o partido que como ele chamava  “ Dos que não tem Boi”, com a sigla PQB, a partir dessa situação foi oficializado hipoteticamente candidato,  atiçado pela galera, o homem partiu para a campanha, em um dia de sábado a tardinha na praça da rodoviária, ele subiu no coreto e começou a discursar: “ Paraibanos e Paraibensas! Paraíba do Sul é uma vaca leiteira que há mais de cinquenta da leite e ninguém sabe pra onde vai! Vou mandar capinar toda a beira do rio para que as mulheres que não fazem nada possam pescar! O candidato da oposição, Sr. Cleofás, vive dizendo por aí, que enquanto os ricos dormem em lençóis limpo e brancas nuvens, o pobre dorme em cama de pau duro.” No pretenso comício a galera em bom numero em volta do coreto, se deliciava vibrando com os gritos: “Ariolário! Ariolário!” , tudo não passou de um tremendo blefe, que a galera aplicou, Seu Ariolário voltou acabrunhado para a função de guarda chave.

Falando da cidade, não posso esquecer o Sr. Manoel Onófrio Rodrigues, homem honrado, acima de qualquer suspeita, fundador do Laticínio Emboaba, onde trabalhei por determinado tempo. Eu tinha quatro amigos de fé, que compartilhávamos de quase todos os eventos da cidade; Agnaldo monitorava casamentos, festas regionais, exposições e outros; existia um taxista, o famoso Calhorda, que nos atendia sempre que saíamos. Certa vez, fomos a uma festa no distrito de Santa Rita, na igreja de mesmo nome, a caminho para a festa o Beto disse: “ O ultimo a arranjar uma namorada, paga o taxi de volta!” Quando o taxi começou a parar, saltei correndo, logo em seguida dei de cara com um grupinho de quatro meninas, uma das quatro era uma escurinha bonitinha, já fui logo jogando o braço pro cima do seu ombro e dizendo: “ Princesa! Voce é a garota mais linda da festa!” , no susto ela respondeu: “ Embruião! Embruião!”, as outras que não eram da cor, na gozação: “ Geiza, você esta com essa bola toda! Com namorado novo e não conta pra gente!?” , moral da história, quem pagou o taxi de volta foi o próprio Beto.

Agnaldo era metido a entender de mulher, dizia que a mulher ama e odeia a palavra simplesmente como segue, “ Ama enquanto dura e odeia enquanto duro!”. Era uma sexta feira por volta do meio dia, quando recebi uma ligação do Agnaldo. “ Esta marcado para amanhã, sábado, já certo com a turma o baile em Santo Antônio da Encruzilhada, o Calhorda já esta avisado.” Resultado, sábado as dez na noite, chegamos a praça em frente ao clube, muita gente aglomerada, enquanto Agnaldo parlamentava com seu papo mais escorregadio que limo verde em pedra encantada, o homem liberou nossa entrada; o salão cheio, musica animada, muita mulher bonita, todos nós arruamos pares para dançar; lá pelas tantas uma figura sobe no palco, mandou a musica parar e determinava:” Vou apagar as luzes! As pessoas que não foram convidadas, por favor retirem-se!” O Agnaldo esbaforido apareceu: “ Vamos sair! Vamos sair!”, resultado: final de noite: maior mico e o Agnaldo quase apanhou.

Estou no escritório trabalhando, todo o telefone, quem é figura? “ Escuta, já acertei com o Beto, Zeca e Elmo, o Calhorda já esta avisado, saída dez horas lá na praça.” Perguntei: “ Mas do que esta falando?” “ Casamento da filha do Sr. Ferreira, voce topa?!” , “ Voce acertou tudo, agora o jeito é encarar! Onde é o casório?” “ No sítio do Sr. Ferreira, perto de Matosinho”, no dia do casório pegamos o taxi na praça, no horário combinado e seguimos pelas ruas até que acabou a iluminação, pegamos uma estrada de terra, cheia de buracos, rodamos, rodamos, noite escura, a lua compensava dando um pouco de claridade, Beto reclamou:” Estamos perdidos!”, de repente ouvimos um som de sanfona, parecia vindo de longe, paramos o carro, estávamos em uma parte alta da estrada, olhamos para baixo e vimos umas luzinhas acesas, retornamos ao carro, seguindo a descida do morro, chegamos a um local, cheio de árvores muito grandes que formavam um bosque muito bonito, lotado de carros, enfim chegamos ao casamento no sítio do Sr. Ferreira.   

A festa acontecia na sede no sítio, uma casa azul e branca, a parte do eitão foi coberta com lona de caminhão formando um grande espaço coberto, logo que chegamos uma pessoa nos chamou a passarmos por um portão de entrada, um senhor com garrafão servia uma dose de cachaça a cada pessoa que entrava, cada um pegava seu copo, festa dominada, conjunto do Sr. Zuza com sua sanfona incentivava todo mundo à dançar.

Estamos os quatro em um canto observando o movimento dos pares dançantes, eis que de repente aparece a noiva de véu e grinalda dançando com uma mulher, enquanto as duas davam voltas pelo salão, o Beto e o Elmo, começaram a atiçar “ Voce é macho mesmo!? Vai lá tira a noiva pra dançar!”, continuaram repetindo “ Vai lá !!!”, tomei coragem fui ao meio do salão, quando as duas chegaram próximas a mim, parti para perto e sai com essa: “ Noiva, quer me dar o prazer desta contradança!?” , saímos rodopiando pelo salão, de repente num tremendo  burburinho apareceram o noive e seus amigos, tremenda correria, duas amigas correram e a tiraram do salão, os amigos do noivo partiram para cima de mim, alguém falou: “ Dá o fora! Você vai apanhar !”, logo em seguido um senhor pega no meu braço, me leva num canto e diz: “ Dançar com noiva não!”, e retrucou: “ Eu conheço você e seus amigos, sou o pai da noiva, sei que vocês são gente boa” e em um tom alegre disse, “ Vão ali para a copa, temos comes e bebes à vontade, divirtam-se!” mas alertou: “ Você dançar com a noiva, nem pensar!!”