segunda-feira, 4 de novembro de 2013

UM ITALIANO NAS GERAIS













Cula, Raisa, Isabela, Geraldo, Pixot e Berod.
      Cula morava em um sitio de nome Pouso Alegre, situada em planalto pequeno com uma casa de madeira com oito cômodos. Na parte dos fundos tinha dose pes de jabuticaba, na parte da frente a uns cem metros abaixo passava uma estrada de terra. Se alguém passasse na dita estrada e não observasse bem, não notava a existência do sitio.
      Cula era descendente de italianos que vieram para região em outras épocas. Magro, alto, bigodão preto, falava muito alto e de uma tremenda energia, pegava uma cachaça de respeito. Moravam com ela sua esposa Raisa, seus filhos Isabela, Geraldo, Pixot e Berod.     
      Cula trabalhava na fazenda do Senhor Américo que era dono do sitio onde ele morava, ele e seus três filhos homens trabalhavam na lavoura de café. Acordar as seis horas da manha na dita casa, sol despontando no alto do morro, as maritacas, arapongas, sabias, trinca – ferros, canários e outros compunham a sonora orquestra. O perfume que exalava das flores das jabuticabeiras, o cheiro do café que vinha da cozinha era a coisa mais gostosa do mundo.
     Cula e seus filhos levantavam todos os dias as seis da manha e iam para a lavoura de café, enxada nas mãos, engatavam na parte de baixo, cada um em seu beco do cafezal. Cula era sempre o primeiro a chegar no ultimo pé de café, acendia seu cigarro enquanto esperava a chegada dos outros. Na capina do café trabalhavam outros empregados que não eram de sua família, um desses empregados tinha um apelido esquisito, “ Três Contigo “. Enquanto todos os empregados já tinham chegado no final, ele ainda estava no meio do eito.    
Cula gritava :
Três! Acende o pito, bota fogo na caldeira se não você não chega.
      No fim do dia todos iam para um barracão que existia embaixo da lavoura, onde se encontravam, trocavam de roupa e deixavam suas enxadas. Apesar da gozação, os dois eram amigos, pois eram sócios da mesma garrafa da “ mardita “.
Todos os dias quando Cula e seus três filhos chegavam em casa, ele gritava:
Bela! Bela! Porca Miséria! Cadê a garrafa de cachaça que estava aqui?
Bela gritava:
Não tenho culpa se você compra garrafa furada. Foi a maior gozação, os três filhos foram saindo correndo para rir lá fora no terreiro e Cula muito bravo gritava:
Ainda mato essa “ maledeta “.
     Bela era quem cuidava do estoque de cachaça do pai, apesar de toda a gritaria, ele amava muito sua filha.
     Cula e seus três filhos levantavam cedo e iam pra sua rotina na lavoura, a tarde desciam para o dito galpão que era controlado por um casal: Valerão e Birda.
     Birda, morena alta, cabelos pretos e cumpridos, olhos grandes e pretos. A mulher fazia Cula ficar vesgo e seus filhos encarnavam na gozação:
Mama Raisa é brava.
     Birda que era um violão ou mais que um “ violão celo “, perturbava a vida de meia dúzia na região.
     Cula e seus filhos para não negar a raça, eram bons músicos. Nos finais de semana de sexta para sábado, estavam sempre nas varandas das fazendas mais próximas e nos botequins, como dizia ele, fazendo a alegria e felicidade dos poverellos.
     Faziam parte da banda, Cula no acordeom, Pixot e Berod tocavam violão e Geraldo no cavaquinho, atuando sempre nos fandangos da vida.
     A Vida continuava, as idas e vindas das lavouras, em um final de semana, sexta feira, chegaram em casa os quatro muito cansados, cama pra quem te quero. Sábado, sol alto, oito horas da manha, acordão todos de cara amaçada.
Cula, o primeiro a acordar, grita:
Porca miséria, isso é hora de acordar!
     O café já estava na mesa em um silencio que só se ouvia o barulho da chaleira fervendo no fogão. Todos tomaram seu café. Geraldo, o primeiro a sair da mesa, acende seu cigarrinho e foi logo dizendo:
Hoje não quero ver nem sombra do cavaquinho.
Cula resolveu mudar a rotina:
Que tal agente sair para caçar?
     Os três vibraram e começaram a organizar a matula. Pegaram as três armas empoeiradas, fizeram a limpeza. Todas brilhando, uma carabina papo amarelo, um rilfe e uma espingarda de dois canos de carregar pela boca. Pegaram as cartucheiras, o cantil, pólvora e munição, emborna para suprimento de um dia de caça.
     Já era meio dia quando saíram de casa, armas a tira colo, emborna pendurados nos ombros, desceram o caminho de casa e pegaram a estrada das paineiras, seguiram por um trecho que tinha muitos bois pastando, atravessaram o rio, seguiram um caminho estreito em um terreno plano.
      Logo em seguida, começaram a subir o caminho cercado por carreiras de café dos dois lados, a épocas era da florada, os pés de café estavam branquinhos, as flores com o calor do sol perfumavam o caminho, continuaram subindo ate chegar a fazenda do Senhor Jordelino, pois teriam que passar ao lado da casa pra chegar a mata, continuaram subindo, chegaram ao terreirão da fazenda, os seus amigos de enxada estavam todos esparramados, uns encostados em um carro de boi, outros em uma pedra ao lado do terreiro.
      Quando viram aquelas quatro figuras com as armas a tira colo, mais os sacos de matula nos ombros, começou a gozação.
Zeca um dos seus amigos da lida nos becos de café, gritou bem alto:
Senhor Jorge será que eles estão indo para guerra?
Senhor Jorge respondeu:
Foi declarado a guerra do contestado e agente não sabia.
       Gozação a parte, já eram mais de doze horas, dia de sábado, fogão a lenha fazendo fumaça na cozinha, o cheiro chegando onde eles estavam.
Cula muito esperto reclamou:
Esse negócio vai ficar só no cheiro?
Senhor Jordelino que era uma pessoa muito alegre e prestativa, gritou alto:
Vamos para cozinha que a comida esta esfriando.
       Todos subiram para a cozinha, Cula entre um gole e outro, comia as por petas, angu frito, broa de milho salgada, costela de porco e uma variedade de carnes a escolha. A comilança durou umas duas horas ou mais, ate que Geraldo lembrou da caçada. Pegaram os sacos de matula, levantaram acampamento, despedida, mais gozação:
Senhor Jordelino disse:
Cula o que você conseguir caçar eu aço no dedo.
       Já era mais de quatro horas, começaram a subir entre as carreiras de café, distancia de uns quinhentos metros, terminado a subida no trecho do cafezal, entraram no verdadeiro espaço da mata. Facão na mão cortando galhos, cipó, arranha gato, contornado pedras, chegaram a um local de arvores muito grandes, seis e meia da noite, já estava meio escuro, quando escutaram uma barulhada na copa de uma das arvores. Eram os jacus chagando para dormir, Geraldo engatilhou a espingarda, mirou e atirou em um dos jacus, a única coisa que conseguiu foi espantar os bichos que voaram para o alto da mata, eles subiram mata a dentro perseguindo os bichos nada conseguindo, com o tempo que levaram, noite muito escura, procuraram um espaço ao lado do tronco de uma arvore, acenderam um fogo e dormiram ali.
       No dia seguinte acordaram com o sol brilhando por entre as folhas das árvores, a barulhada do trilhar das arapongas, o canto dos merros e outros como maritaca e papagaios. Levantaram e tomaram café, apagaram o fogo do chão onde eles dormiram, pegaram suas armas e saíram pela mata para continuar a caçada. Começaram a subir por uma trilha entre árvores, muitos troncos secos, arranha – gatos (e um cipó cheio de espinhos ), umas duas horas subindo quando de repente começaram a ouvir uma barulhada que vinha da copa das árvores, era um casal de monos ( macacos típicos dessa região ), os três pegaram suas armas e saíram atirando nos bichos, o que conseguiram foi espantar os macacos que partiram pela mata acima levando os três  a se embrenharem pela mata a dentro já sem rumo e completamente perdidos. As horas passaram, anoiteceu, procuraram um espaço embaixo de uma árvore, acenderam um fogo e ajeitaram tudo para dormir.
        A noite não das melhores, da meia noite para a madrugada, as uiaras ( animal típico da região ) começaram a uivar bem perto do acampamento, logo em seguida silêncio total, as uiaras sentiram o cheiro de uma onça e desapareceram. A situação piorou, a onça começou a uivar envolta do acampamento, resultado, não conseguiram dormir. Cheios de fome, pois não tinham comida, o dia clareou, juntaram as trapizongas, pegaram as armas, saíram em frente para um dia perdido na mata. Acharam uma pequena trilha e foram seguindo, quando escutaram uma barulhada que parecia trovoada, ficaram parados protegidos junto ao tronco de uma árvore. A barulhada que eles estavam ouvindo era de uma manada de queixadas ( porco do mato ), bichos subindo mato acima, Cula mais os três partiram atrás da manada dando tiros para todo lado, o que eles conseguiram foi espantar os bichos que subiram para mata desaparecendo do alcance deles, cismaram que tinham acertado um dos porcos, ficaram muito tempo procurando, o dia já estava escurecendo, cansados e com fome, resolveram parar para dormir, andaram mais um pouco, quando encontraram um jequitibá, árvore muito grande com diversos espaços entre as raízes, onde poderiam dormir protegidos do vento e do frio.
       Passaram uma noite tranquila, acordaram no dia seguinte já com o sol alto, pegaram suas armas juntaram todos os trens e saíram por uma trilha sentido direita na mata, andaram umas duas horas, quando começaram a escutar um barulho de agua, era uma pequena cachoeira, Cula deu uma parada, acendeu seu cigarro de palha e disse:
Já não estamos perdidos, vamos descer seguindo a agua da cachoeira!
       Levaram umas quatro horas descendo, quando clareou, já saindo da mata, desceram um pouco e encontraram um cafezal, desceram por entre a carreira do cafezal, encontraram um espaço que parecia ter sido capinado a pouco tempo, pararam ali para dar um descansada, arriaram as mochilas, enquanto estavam fumando, Geraldo já estava apagando seu cigarro, quando viu uma coisa acinzentada por entre dois galhos de um pé de café. Curioso levantou, pegou, tinha um volume de mais ou menos 500g, pegou um canivete e começou a cortar a parte acinzentada que era mofo. Logo tudo cortado descobriu que era angu, dividiu em quatro pedaços, com a fome que estavam, comeram e disseram que era o angu mais gostoso do mundo.
“Vamo levantar, arubu voando baixo”!
       Começaram a descer logo em frente saíram do cafezal, pegaram um trecho de pasto, atravessaram uma cerca de arame farpado, começaram a ouvir latidos de cachorros, engenho de cana de açúcar situado abaixo, o cheiro de garapa quente que o vento trazia ate eles, provocando ainda mais a situação de seus estômagos vazios, sonhando com as por petas e o macarrão da mama.
       Desceram o resto do caminho no pasto, atravessaram um pequeno ribeiram, seguindo por uma rua ao lado de um pequeno colégio, encontraram o Gere Mário no meio de um monte de crianças, gritando:
“Iscriança a aula já deu pispio”!
Cula e seus filhos deram muitas risadas com a alegria da criançada. Seguiram em frente e chegaram na casa do seu amigo Ninguém, bateram palmas na porta, seu amigo aparece e diz:
Que sumiço! Por onde vocês andaram?
Não pergunta, o negocio é que estou com muita sede! Diz Cula.
Ninguém não deu nem muita bola, Cula batendo na cangalha para burro entender, disse:
Estou com a goela seca!
Ninguém entendeu o recado e disse:
Tinha uma garrafa, mas a jabiraca da minha muié jogou no rio!
       Na casa de seu amigo tinha umas mantas de carne seca que eles comeram uns pedaços e seguiram para casa. Levaram uma hora ate chegar em casa, na subida do caminho quando apareceram no terreiro na frente da casa, Bela e Raisa avistaram os quatro, gritaria de alegria.
Madre cita mia! Dizia sua mulher, sua filha não sabia se ria ou se chorava, com toda aquela barulhada, Cula deu uma parada e gritou:
Chega! Estamos cansados e com muita fome.
       Em seguida desceram o caminho e foram tomar banho no rio. Ficaram uma hora se banhando. Enquanto esse tempo, Raisa e Bela prepararam a comida com todos os pratos que eles gostavam. De banho tomado, subiram, todos a mesa, almoçaram a vontade, contaram as historias da caçada, muita gozação e risadas.
       Terminado o almoço enquanto Cula descansava e pitava seu cigarro em um canto da casa, Geraldo e seus irmão ouviram risadas do fundo do terreiro onde estavam as jabuticabeiras, correram e se aboletaram embaixo dos pés de jabuticabas, e ficaram olhando para cima enquanto Bela e suas quatro amigas da família dos Vilhenas, meninas de quatorze e dezesseis anos, chupavam jabuticabas no alto das árvores. Bela notando que os três malandros estavam olhando as pernas das meninas, fez uma gritaria e Cula ouviu e veio em socorro botando os três para correr.
       Situação resolvida, moral estabelecida, as quatro loirinhas da família dos Vilhenas, despediram de Bela levando um cesto cheio de jabuticabas para fazer licor. Passaram – se seis meses e Cula resolveu mudar para outro lugar, um final de semana, sábado, foi a fazenda do Senhor Américo para comunicar as razões da sua decisão. Na chegada foi recebido por uma porção de gansos fazendo uma barulhada no terreiro da casa, ouvindo todo aquele barulho o Senhor Américo chegou na varanda e recebeu Cula, aperto de mão, alegria, começaram a conversar, muitas risadas relembrando situações durante os dez anos vividos e muito comemorados. Começando a conversar mais serio, Cula informou a sua decisão da mudança, o Senhor Américo lamentou muito a perda do convívio do amigo e do trabalho que os quatro prestavam na propriedade.
        Continuando a conversar, o Senhor Américo falou da falta de empregados, pois a maioria não queria nada com o trabalho, estava todo mundo indo para a cidade. Cula deu uma risada e saiu com essa, o Getúlio vai mandar a cimentar o Brasil lá de cima ate embaixo, vai botar uma venda em cada esquina para vender fiado. Cula despediu e já ia saindo quando o Senhor Américo pediu por favor que mandasse dois de seus filhos a sua casa.
       No dia seguinte de madrugada, os apareceram na casa do Senhor Américo, a empreitada era fazer a entrega que ele havia vendido. Cabresto na mão, pegaram o burro no pasto, trouxeram para o curral, arriaram com uma cangalha, penduraram dois balaios, um de cada lado, começaram a pegar os gansos para botar nos balaios. A tarefa era encher o balaio de gansos de forma que o peso ficasse igual, balaios cheios de gansos, em seguida costuraram com saco de estopa a boca dos balaios para que os gansos não escapassem. Tudo arrumaram e sairam para levar os gansos, levaram umas seis horas ate chegar ao barracão dos Mouras, que eram Tropeiros e Mascates, entregaram os gansos, receberam o dinheiro do pagamento. Missão cumprida, arrumaram os balaios na cangalha do burro e sairam de volta, passaram em uma venda, começarm chourisso e beritaram um gole da boa, quando iam saindo do vilarejo puxando o burro pelo cabresto, os dois balaios vazios, logo veio na cabeça dos dois entrar nos balaios.
        Entrou um em cada balaio, o peso estava equilibrado, amarraram o cabresto no cabeçote da cangalha, o burro seguiu sozinho de volta para casa. Com o balanço do balaio os dois dormiram, como o animal já tinha bastante tempo na propriedade do Senhor Américo, sabia certo o caminho de volta. Como a estrada estreita de terra era quase somente descendo,  o tempo de regresso foi menor, levaram cinco horas ate chegar a fazenda. Chegaram seis e meia da tarde e já estava escuro, o burro abriu a porteira com o focinho, entrou e foi parar em um canto escuro do terreiro, uma filha do Senhor Américo escutou o barulho do burro, chamou o seu pai e foi ver o que estava acontecendo.
         A sena era o seguinte, os dois que foram levar os gansos estavam ferrados no sono dentro dos balaios, o Senhor Américo não perdeu tempo, pegou um balde cheio d’água e jogou nos dois, que acordaram assustados, pularam dos balaios, muita risada, a encarnação nos dois foi longa, para acabar com a gozação, os dois pegaram o cabresto, levaram o burro para um galpão, desarrearam, guardaram as cangalhas, levaram o burro para o curral e puseram milho no coxo, enquanto o animal comia a ração, desceram para o terreiro, Senhor Américo da cozinha convidou os dois para tomar café, entraram, fogão a lenha aceso, mesa posta, comeram polenta com sal, broa de milho, caneca cheia de maiá ( café com leite ).
         Satisfeitos, despediram – se do Senhor Américo que agradeceu por tudo, em seguida foram para casa do pai. Semana seguinte, Geraldo arrumou um carro de boi emprestado com seus amigos, com duas juntas de boi para levar a mudança na estação de trem em Caiena. Carregaram os móveis e todos os trens da casa, amarraram com as cordas.
         Geraldo e Berod desceram com o carro para estação, chegaram já meio dia, embarcou toda a mudança, pagou o valor do frete, Geraldo seguiu com o mesmo trem para Muriaé e Berod voltou com o carro de boi para casa. O trem que partiu para Muriaé com uma composição de dois para passageiros e quatro vagões de carga, o trem desceu a serra pesado, chegando a Muriaé já de madrugada quase amanhecendo. Geraldo tirou um cochilo no banco da estação, acordou com a barulhada dos trens manobrando, levantou e foi tomar café em botequim do lado de fora da estação, tomou café e saiu andando por uma rua muito cumprida passando por muitas lojas comerciais, encontrou uma barbearia, entrou e aproveitou para fazer as barba, tinha muita gente, muita conversa, contador de piadas. Terminando a barba, começou a conversar com um senhor pedindo que ele informasse uma pensão onde ele pudesse se hospedar por uns dias. Prontamente informou que no final dessa rua um casarão, a pensão da Dona Lorraine.
        Geraldo foi ate o lugar informado e acertou com a dona hospedar – se só com o café da manhã, ele saiu e andou por uma porção de ruas, entrou em diversas lojas, já estava escurecendo, voltou para pensão, pernoitou em seu pequeno quarto, levantou cedo no dia seguinte, enquanto tomava seu café servido por três meninas que servia o café, aproveitou a oportunidade para perguntar a que lhe estava servindo se não sabia de alguém que tivesse casa para alugar, ela foi ate a copa falar com uma de suas amigas que sabia de uma casa em um lugar um pouco longe, perto da igrejinha de São Cristóvão, Geraldo saiu e foi perguntando por mais de uma hora, chegou a uma praça em que estava localizada a dita igreja, encontrou com uma senhora que morava ali perto que informou a casa que tem para alugar é aquela que esta do lado das mangueiras grandes, o dono é o Senhor Geracino Breder que mora na casa bonita ali do lado.
       Geraldo foi ate a casa, conversou com p Senhor Geracino que disse que era uma chácara que tinha muito pra fazer antes de morar. Geraldo pegou a chave, entrou na casa com tudo que tinha pra fazer e gostou muito, muitas árvores, a casa tinha uma cozinha grande, fogão a lenha, ele voltou a casa do Senhor Geracino para entregar a chave. Ele disse:
Leva a chave!
Geraldo perguntou:
E o aluguel?
Isto agente combina outra hora, disse o Senhor Geracino.
        Geraldo voltou ate a pensão, no dia seguinte pagou o que devia e foi para a chácara, trabalhou e dormiu lá durante toda a semana, no sábado, vestiu a roupa de missa, foi a estação de trem e passou um telegrama para seu pai informando que a casa estava alugada. Na semana seguinte, arranjou uma carroça e retirou os móveis que estavam no armazém da estação. Com a informação da casa alugada, Cula, sua mulher, sua filha Isabela e seus dois filhos, Pixot e Berod, embarcaram em Caiena com destino a Muriaé.
        Para Raisa e isabela a alegria era muito grande, pois pela primeira vez viajaram de trem. A viajem corria tranquila enquanto as duas curtiam as lindas paisagens e as paradas de estação em estação, comprando quitutes e artesanatos que eram vendidos ao longo dos trilhos e nas plataformas das estações.
        Noite chegando, as luzes dos vagões a base de carboreto sendo acesas, logo em seguida enquanto a turma cochilava, a maria fumaça entrava na cidade apitando, apitando, espalhando fumaça para todo lado e o barulho do sino. Já era mais de mei noite quando encostou na plataforma da estação, muito barulho, os empregados das pousadas e hotéis e pensões oferendo suas respectivas vantagens e pegando as bagagens e malas. Cula e sua família desembarcaram meio perdidos, em todo aquele tumulto, quando encontraram Geraldo que estava com uma charrete do lado de fora da estação. Em seguida levou todos para nova casa, a chegada muito divertida, muita alegria, Cula gostou muito do tamanho da chácara, com muitas ávores. Raisa e bela gostaram muito do tamanho da cozinha que tinha um fogão na parte de dentro e outro na parte de fora em uma varanda coberta que ocupava toda a estenção da casa.
      Durante seis meses fizeram muitas amizades com os moradores da redondeza, trabalhando no serviço pesado nos sítios e fazendas da região, saindo alta madrugada e chegando à noite. Nos finais de semana aos sábados, pegavam seus cavaquinhos e violões e faziam a alegria da casa e de seus vizinhos, tocando na varanda da sua casa e na pracinha que existia ao lado de sua casa.
      Com o passar do tempo foram comprando novos instrumentos, conhecendo outros músicos da cidade. Um botequim localizado perto da sua casa onde costumava molhar a garganta com uma dose da boa, conheceu dois amigos que eram músicos que passaram a fazer parte da pequena banda. Começaram a tocar nos bailes, nas festas das igrejas e nos pequenos clubes da cidade.
      Passado um ano, conheceram mais dois músicos da família Afonso Cesar que passaram a fazer parte do conjunto, ficando a banda com oito integrantes. Com essa nova formação passaram a viver somente da musica, tocavam no clube mais importante da cidade, fazendo shows nos clubes das pequenas cidades da região, tocando nas grandes feiras agropecuárias, ultrapassando as fronteiras do estado.
     O clube da cidade que o acolheu, resolveu fazer uma festa comemorativa dos sessenta anos da sua existência. O presidente do clube convidou nada menos, nada mais que o cidadão adotivo Cula. A festa tinha diversos conjuntos tocando, a banda principal que tocou ate o dia clarear foi a do Cula, sendo homenageado no final recebendo cada integrante uma medalha de ouro, sendo esta a historia de Um Italiano Nas Gerais.   


Sete dias, sete noites
Sete noites de luar
Sete noivas namorando,
Numa noite de luar
Sete igrejas, setes missas
Sete noivas no altar.