quarta-feira, 7 de março de 2012
segunda-feira, 5 de março de 2012
Alto Caparaó
Nos idos de mil novecentos e não
sei quanto, eu morava na fazenda do meu avô Agenor Pinheiro, trabalhava de
segunda a sexta feira, era pau para toda obra, trabalhando na lavoura e também
na contabilidade escriturando o que entrava e saia de dinheiro e conta
bancária. Entretanto eu tinha as minhas folgas que também não sou de ferro.
Aos sábados ia para Jequitibá
para casa da tia Felismina, mas o motivo maior era paquerar as alunas do
internato do colégio presbiteriano que faziam a alegria da praça nas tardes de
sábado e domingo.
Acontece que em um final de
semana, segunda feira bonita, bonita, dormi mais que a cama e perdi o bus que
saia as sete horas da matina e outra condução somente no mesmo horário no dia
seguinte. Moral da história, encarar a pé quase 20 quilômetros de estrada de
chão, o que fiz logo em seguida. Na saída da pequena cidade tinha uma venda
localizada em um casarão da época com uma escada de pedra, ficando bem mais
alto que a rua, entrando na venda para comprar dois pães e um pouco mortadela
para fazer um sanduiche. Enquanto o atendente pegava aquela bexiga bonita de
mortadela cortando em cima do balcão em um papel pardo e me servia uma fatia,
lá do fundo do balcão veio um cheiro forte de cachaça que era servido a uma
figura bem característica da região, com seu chapeuzinho preto levantou o copo
e disse:
- Vai dá um tapa néla?
Não resistindo segui para o fundo
do balcão, a pessoa que atendia veio logo com um copo quase cheio do precioso
liquido, pedi para reduzir para dois dedos, peguei o copo e beberiquei logo em
seguida. Acontece que tinha que pegar a estrada, o que fiz logo em seguida,
peguei a sacola com o pão e a mortadela, desci a escada da venda pegando o
caminho em direção a Caparaó.
Quando comecei definitivamente a
caminhada notei que tinha companhia, o caipira do chapéu preto, fumando seu
cigarrinho de palha começou logo a conversar envolto na fumaça do cigarro,
olhando bem para mim soltou essa:
-A fonosomia eu num esqueço
nunca.
Fiquei pensando cá com os meus
botões, como se escreve esse negócio, com PH de farmácia ou com F?
Ele muito conversante continuou o
papo:
- Enquanto a mula tivé mio na
caparonga, nóis chega lá. To levano dois emborná com compra que fiz na rua, uma
tem quitanda pros cambarucengos, no otro tem 3 metro de vuar, pra a desdita,
enquanto o burziga guenta nóis ta andandu. Ta cheganu nus Tavares, quando vejo
as bela fico de zói trocado, vamu subino, ali mora seu Mió.
E seguiu meu novo amigo falante
conversando.
- Na casa ondo moro tem uns pé de
fruta, os passarin tão comendo tudo. Tenho um vizinho, Seu Perera, que home
feio pra daná, falei: Seu Perera vamo la na rua, no retratista, tira uns
retrato, comemo umas quitanda e tomamo um gole. Fumo tira os retrato, falei com
retratista, quero dois do meu amigo bem grande, um dei pra ele, outro fico
comigo, botei nos pé de fruta pra espantar os passarim.
Perguntei:
- Adiantou alguma coisa?
- Nada os passarim costumaru cum
ele!
E seguia o matuto na prosa.
- Fui trabaiá levantei cinco hora,
inda tava escuro, peguei no eito, garrei no rabo da uiara inté o dia escurece,
pra ganha 3 conto no dia. Vortei pra casa já de noitinha, fui na bica tomei um
banho, tava armandu chuva, relampejava muito, quando comecei escutar um bicho
rocando no mato perto de casa, eu tenho uma flobé e uma papo amarelo, peguei a
papo amarelo, subi lá, o bicho tava no meio das foia, fazenu muito barui, centei
fogo no bicho, ficou pindurado. Belengô... belengô... e num caiu!
- E você? Foi pegar o bicho?
- Eu não! Fiquei com medo.
- Você tem medo!?
- Quem num tem!? Quem tem, tem
medo, uai!
- Ocê conhece Dona Buluta? Ela
mora ali. Bem, aqui nós vai aparta. Bem ali começa o caminho da minha casa, os
cambarucengo vieru me encontra.
Chegando os meninos, ele disse:
- Minino, sóda o home!
Nisso os garotos estenderam a mão
pra me cumprimentar. Despedindo ele me convida:
- Vai lá no Pito Aceso, pra comê
um péla égua!
Obs: Professor Pasquale gostaria
de seu parecer para a matéria em foco.
Atualmente essa região é muito
rica, grande produtora de café e de grande potencial turístico. Jequitibá,
Caparaó, Alto Caparaó, Manhumirim, Manhuassu e outras localidades. Região de colonização
europeia realizada por famílias como: Agenor Pinheiro, Valérios, Satles, César,
Werner, Breder, Heringes, Moita e Tavares. Meu amigo Nelson César, não tenho certeza mas acho que o cantor
Silvio César também é da Região.
Agur
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